Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Transporte Terrestre

Modal coletivo requer R$ 500 bilhões até 2054, aponta estudo

Segundo o BNDES, o Brasil precisaria dobrar o sistema de metrô e quadriplicar o de BRT e de VLT nas próximas décadas

06/08/2025 14h20

BRT Salvador - Foto: Jefferson Peixoto - Secom - PMS

Um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mapeou 194 projetos de transporte público coletivo de média ou alta capacidade e apontou que o Brasil precisa praticamente dobrar o tamanho do sistema de metrô e quadruplicar o de BRT (Bus Rapid Transit) e de veículos leves sobre trilhos (VLT) nas próximas décadas. O plano está sendo construído com o Ministério das Cidades e prevê investimentos de até R$ 500 bilhões até 2054 – trinta anos depois do levantamento ter sido iniciado.

“A necessidade de mobilização de recursos é muito grande. Vamos enfrentar lá na frente a escassez de recursos e a dificuldade de implementar esses projetos. E por isso a gente procura soluções mais baratas quando elas são adequadas. O BRT, por exemplo, tem se mostrado uma solução importante para o país. Ele tem uma eficiência mais baixa que um transporte sobre trilhos, mas o custo de implementação está na casa de R$ 50 milhões por quilômetro, enquanto o metrô pode chegar a R$ 1 bilhão por quilômetro”, disse Felipe Borim, superintendente de infraestrutura do BNDES.

Borim participou na quinta-feira do seminário “Caminhos do Brasil”, uma iniciativa dos jornais “O Globo” e Valor e da rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações.

“Depois do mapeamento, o governo federal vai construir, com os entes, uma lista de prioridades de quais projetos terão recursos alocados num primeiro momento. Mas é preciso perenidade nessas ações ao longo dos anos. Nós vamos investir R$ 42 bilhões na área em quatro anos [do governo]. Antes disso, não houve financiamento nenhum. Isso não pode acontecer”, afirmou o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, que participou dos debates.

De acordo com o levantamento do BNDES, a rede base de metrô do Brasil (aquela já construída somada ao que está em fase de implementação) chega a 376 km. O acréscimo previsto pelo plano é de mais 323 km. Já a de BRT, VLT ou monotrilho – categorias que são aglutinadas no estudo – cresceria de 631 km para 2,5 mil km. “Todas as grandes cidades vão ter que ter BRT e metrô se complementando, bem integrados. Cada modelo tem suas vantagens”, observou a diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), Clarisse Cunha Linke.

O mapeamento também analisa projetos de trens e de corredores de ônibus. No primeiro caso, só São Paulo está prevendo uma ampliação da malha – acrescentando 96 km aos 308 km que existem atualmente. Já o segundo passaria de 326 km para 483 km em três décadas. “Neste momento, o VLT é uma tecnologia mais eficiente do que o trem para dentro das cidades. Para grandes distâncias, a tendência é continuar com o trem. A região metropolitana de São Paulo é maior e mais populosa do que outras do Brasil. Portanto, sistemas metroferroviários, que têm maior capacidade de carregamento, tendem a ser modais mais presentes”, afirmou Borim.

O número de passageiros de transporte público, segundo ele, caiu 43% entre 2014 e 2023. A migração vem acontecendo em grande medida para formas de transporte individual, como carros e especialmente motos de aplicativo – um jeito mais barato e rápido de se locomover.

“Isso é uma consequência de um serviço que não é de bom nível por falta de planejamento e de bons projetos. Ao mesmo tempo, a perda de passageiros aprofunda a crise, porque você reduz a demanda em um sistema que já tem problemas de financiamento com o pagamento de tarifa”, acrescentou Borim.

“Durante a pandemia, a demanda chegou a cair até 80% no pico, em março de 2020. Até meados de 2023, o volume de usuários ainda estava cerca de 15% abaixo do patamar pré-pandemia, sinalizando uma demanda perdida que migrou para outros modos, como carro próprio, moto ou aplicativos”, afirmou Aline Leite, coordenadora de transporte público do ITDP.

Clarisse Linke lembrou que mesmo antes da pandemia já era registrada uma queda constante de 15% no número de passageiros por ano. “Hoje, a maior parte das cidades ainda não retomou a demanda diária. O caso do BRT no Rio é uma exceção, dado os grandes investimentos feitos na requalificação do sistema.”

Denis Eduardo Andia, secretário nacional de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, acrescentou que essa é uma preocupação do setor há muitos anos. A tendência de queda no transporte público vem sendo detectada em várias partes do mundo após o surgimento de outras formas de locomoção, como os aplicativos. “A pandemia agravou sobremaneira essa tendência. É um processo com o qual temos lidado para buscar soluções. E elas passam por investimentos de médio e longo prazo e bons projetos”, frisou Andia.

O mapeamento do BNDES buscou projetos de transporte público coletivo de média ou alta capacidade planejados por Estados e municípios das 21 regiões metropolitanas analisadas. Elas foram selecionadas por terem pelo menos 1 milhão de habitantes cada. Em um segundo momento, a instituição passou a fazer uma análise crítica dos projetos e retirou aqueles que não faziam sentido – considerando o número de pessoas atendidas pelo investimento, por exemplo. Com isso, chegou ao número de 192 iniciativas.

O BNDES ainda não divulgou quais são esses projetos. No entanto, é possível detectar que, no Rio, foram analisadas obras como a expansão da Linha 4 do Metrô, ligando o Jardim Oceânico ao Alvorada, e a criação da Linha 3 do centro de Niterói a São Gonçalo. Já em São Paulo estavam na primeira filtragem obras como o crescimento da Linha Verde de Cerro Corá até Vila Madalena e a construção da Linha Ônix, entre São Bernardo do Campo e Bonsucesso. A expectativa, diz Borim, é divulgar a lista completa em alguns meses.

Ainda de acordo com o estudo, a quantidade de pessoas atendidas por esses modais de alta e média capacidade pode aumentar até 501% caso a rede futura seja efetivamente implementada, associada a incentivos como integração de modais, tarifa única ou reduzida, entre outros.

Fonte: Valor Econômico