06/12/2025 09h51
Foto: Divulgação
O delineamento sinuoso por áreas de risco geológico, em pista simples e sem sinalizações na maioria da sua extensão, fez com que o trecho da BR-381 entre Governador Valadares (MG) e Belo Horizonte ficasse conhecido como “rodovia da morte”. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabilizou 3.960 acidentes, 420 deles fatais, entre 2018 e 2023. A recente concessão, assumida pela 4UM Investimentos após leilão em 2024, prevê melhorias, mas outra alternativa promete ajudar o escoamento desse corredor logístico fundamental para a produção siderúrgica e mineral: uma mini estrada de ferro ligando a região metropolitana da capital mineira à ferrovia que chega ao porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Sob investimento de R$ 1,5 bilhão, o projeto – batizado de Ramal Ferroviário Serra Azul – é encampado pela Cedro Participações e tem início das obras previsão para 2027, com conclusão estimada para 2030. A projeção é que 25 milhões de toneladas de minério sejam transportadas pelos seus trilhos anualmente, usando cinco trens compostos com até 132 vagões com capacidade de 130 toneladas por carro. Isso significa que cada trem pode retirar 570 caminhões carregados de ferro das estradas. A longo prazo, a Cedro estima que a ferrovia vai retirar 5 mil caminhões por dia da BR-381.
O pequeno entroncamento férreo deve ligar Mateus Leme, Igarapé, São Joaquim de Bicas e Mário Campos, municípios mineiros onde fica parte da extração estadual, à Malha Regional Sudeste (da MRS Logística), responsável por movimentar 50% das cargas do modal ferroviário de toda a região, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e que chega ao porto fluminense.
O setor produtivo vê a construção da shortline de 26,5 km com entusiasmo. Célio Benício Filho, presidente da Mineração Comisa, cuja sede fica em Igarapé, disse que atualmente a extração anual em Serra Azul é de 28 milhões de toneladas. Planos futuros de expansão projetam um aumento para 36 milhões de toneladas, o que refletiria na criação de 28 mil empregos novos e R$ 3,5 bilhões em impostos recolhidos.
Apesar de ter sido autorizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ambientalistas se opõem à execução do projeto. Moradores e técnicos ouvidos pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais apontaram para a possível destruição de 78 cursos d’água da região em caso de implementação do projeto ferroviário, o que poria em risco a segurança hídrica da região.
A Associação dos Municípios Mineradores de MG se contrapôs a essa argumentação, dizendo que essas cidades dependem financeiramente da atividade mineradora, inclusive para manutenção de políticas públicas. Já a Cedro disse que o empreendimento deve gerar, ao longo de sua construção, cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos, além de mitigar o lançamento de 40 mil toneladas de CO2 na atmosfera por ano.
“O Ramal Ferroviário Serra Azul representa uma mudança de paradigma para toda a cadeia logística que conecta Minas Gerais ao litoral fluminense. A retirada de milhares de carretas por dia da rodovia Fernão Dias será um marco para a mobilidade, para o meio ambiente e para a logística nacional”, afirmou Lucas Kallas, presidente da Cedro.
Fonte: Valor Econômico