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Transporte Aquaviário

Um quinto das indústrias usaria cabotagem com portos melhores

Segundo pesquisa da CNI, um em cada cinco empresários adotaria o modal se houvesse infraestrutura adequada

02/10/2025 07h56

Foto: Divulgação

Uma em cada cinco indústrias brasileiras estaria disposta a migrar para o transporte por cabotagem se houvesse condições adequadas de infraestrutura portuária no país. O dado, revelado por pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), expõe uma considerável dependência do modal rodoviário. 

Segundo a pesquisa da CNI, 29% das empresas industriais utilizam atualmente a navegação entre portos brasileiros para escoar produção. Ao todo, a cabotagem representa meros 11% da matriz de transporte nacional. Segundo a CNI, desses 11%, três quartos (75%) são ocupados apenas com petróleo e derivados.

Ou seja, a indústria em geral praticamente não usa o transporte marítimo. Enquanto isso, o Brasil segue apostando nas rodovias para transportar cargas por longas distâncias — exatamente o modelo que especialistas apontam como o mais ineficiente e custoso.

"Os custos de transporte no Brasil são elevados, uma vez que utilizamos equivocadamente o modal rodoviário em longas distâncias", afirma Paula Bogossian, analista de infraestrutura da CNI. A entidade estima que uma melhor distribuição na matriz de transportes poderia reduzir os custos logísticos do país em até 13%.

BR do bar existe, mas indústria desconhece

O levantamento da CNI, que ouviu 195 empresas de 29 setores industriais em todas as regiões do país, também mostra que 76% dos empresários que já utilizam cabotagem desconhecem o Programa BR do Mar, instituído pelo novo marco regulatório do setor e em vigor desde julho de 2024.

O programa, sancionado em 2022, reúne medidas para aumentar a oferta de navios e investimentos no transporte aquático de produtos. Mas a falta de divulgação e a demora na regulamentação comprometem sua efetividade.

Entre os empresários que conhecem a iniciativa, nove em cada 10 enxergam benefícios. A redução de custos é apontada como o principal ganho esperado: 85% das empresas que atuam na cabotagem e 70% das que não usam o modal citaram essa vantagem.

Incompatibilidade geográfica

Quando questionadas sobre os motivos para não utilizar a cabotagem, as empresas apontam principalmente a incompatibilidade geográfica (45%). Esse argumento, no entanto, não se sustenta diante dos números: 65% das indústrias consultadas não utilizam o modal, e dessas, uma em cada cinco estaria disposta a adotar o transporte marítimo se houvesse condições adequadas.

O interesse é geograficamente disperso. Estados como Rio Grande do Sul (17%), Bahia (13%), Rio Grande do Norte (13%) e Santa Catarina (13%) lideram a lista de empresas dispostas a migrar para a cabotagem. A indisponibilidade de rotas (39%), maior tempo de trânsito (15%) e distância até os portos (15%) também foram citadas - todos problemas que dependem de investimentos federais em infraestrutura.

"Para a indústria, que transporta grandes cargas e volumes, a modalidade é um grande diferencial para a competitividade do setor. Por isso, o BR do Mar é tão relevante", avalia Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI.

Grandes empresas lideram uso, pequenas ficam de fora

A pesquisa mostra ainda um recorte por porte empresarial que evidencia a exclusão das pequenas indústrias. Apenas 7% das empresas de pequeno porte utilizam cabotagem. Entre médias empresas, o índice sobe para 22%. Já entre as grandes, 44% já utilizam o modal - sendo que 8% afirmam fazer uso intensivo do transporte marítimo.

As empresas que adotam a cabotagem transportam cargas por distâncias maiores: em média 1.213 km, contra 862 km das que não usam o modal. A redução de custos (79%) foi apontada como o principal fator de escolha, seguida pela segurança no transporte (21%).

Governo precisa regulamentar portarias essenciais

Apesar da regulamentação do BR do Mar em julho, dispositivos importantes relacionados à plena execução do novo Marco Legal da Cabotagem ainda aguardam regulamentação, na avaliação da CNI. Duas portarias são essenciais: uma sobre cláusulas de contratos de longo prazo para afretamento de navios e outra que definirá o conceito de "embarcação sustentável" para fins de atendimento aos requisitos do programa.

Sobre as chamadas “embarcações sustentáveis”, o diretor Roberto Muniz ressalta que a CNI busca ativamente a integração da indústria com a agenda ambiental e social, de forma a promover práticas sustentáveis e contribuir para a construção de uma economia de baixo carbono.

“A Lei tem o objetivo de incentivar a cabotagem. Entendemos a importância de termos embarcações sustentáveis, mas os parâmetros a serem definidos em portaria para políticas de sustentabilidade não podem comprometer a necessária ampliação do uso do modal e o desenvolvimento da indústria naval brasileira, tampouco ser mais restritivos que em outros países”, pondera. “

O principal desafio apontado pelos empresários é a necessidade de superação dos baixos investimentos em infraestrutura portuária - citado por 69% das empresas que atuam na cabotagem e 70% das que não usam o modal.

Com uma costa litorânea de mais de 7.400 km e enorme potencial para transporte aquaviário, o Brasil segue apostando em rodovias deterioradas e custos logísticos que comprometem a competitividade industrial. A pesquisa da CNI deixa claro: a infraestrutura inadequada não é apenas um problema técnico, mas uma escolha política que custa bilhões à economia brasileira.

Fonte: Correio Braziliense