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Editorial

Um ano muito complicado

Agravamento da pandemia e incertezas causadas pelo comportamento errático das autoridades federais, no comando da saúde e da economia, sinalizam para um 2021 muito difícil

04/03/2021 14h00

Há um ano, quando a pandemia do novo coronavírus definitivamente se instalou no Brasil, as análises, hoje se sabe, muito otimistas previam que 2020 seria um ano perdido para a economia mundial, mas que tudo iria se normalizar e as perdas seriam recuperadas em 2021, mesmo que com alguma dificuldade. Hoje, o que sobra em todo o mundo e especialmente em países, como o Brasil, que não agiram de forma enérgica para conter ou desacelerar o avanço da Covid-19 é uma perspectiva muito ruim.

Os economistas nacionais não escondem o pessimismo com as possibilidades de um desempenho minimamente melhor em 2021 e, para isto contribuem vários fatores, como o descontrole sobre a pandemia, a extrema lentidão do processo de vacinação da população, o dólar forte, o risco fiscal, e o comportamento errático do governo federal, tanto em ações para reduzir a gravidade da crise sanitária, como na adoção de medidas econômicas.

O recrudescimento da pandemia tem forçado governadores e prefeitos a adotarem medidas restritivas para evitar um contágio ainda maior da doença, fechando serviços não essenciais e dificultando a circulação e a aglomeração de pessoas. O que realmente é muito necessário, dada a gravidade da situação, mas que provoca forte impacto numa economia que já vem combalida desde antes da pandemia, aumentando as dificuldades de empresários, comerciantes e prestadores de serviços.

A perspectiva é pior para o setor de serviços, justamente aquele que tem o maior peso na composição do Produto Interno Bruto, levando para o espaço a estimativa de um crescimento de 3,5%, o que já seria inferior aos 4,1 registrado em 2020. A agravar a situação, existe a incerteza quanto aos rumos das contas do governo, deixando angustiados os investidores, que buscam sinais de que a equipe econômica está realmente comprometida com o acerto das contas públicas nos próximos anos.

Tal incerteza justifica-se porque nitidamente há um choque entre a agenda liberal do Ministério da Economia, sob a batuta de Paulo Guedes, e os desejos do presidente Jair Bolsonaro de atender às pressões advindas de sua base política no Congresso para o afrouxamento de algumas medidas e a adoção de outras que visam agradar eleitores de deputados e senadores, além de tentar melhorar os índices de aprovação do governo junto à população.

Todo esse quadro, mais as incertezas que cercam o quadro mundial, a exemplo da forte valorização do dólar, que impacta seriamente na balança comercial do Brasil, aumentando dificuldades para exportações e importações, conduzem à quase certeza de que os brasileiros devem mesmo se preparar para 2021 ser mais complicado que 2020.