09/06/2025 06h05
Foto: Ilustrativa
Em janeiro de 1974, quando Ary Silveira desembarcou na Bahia para fazer a terraplenagem da área onde seria construído o Polo Petroquímico do Nordeste, em Camaçari, um jovem engenheiro químico, que desde aqueles tempos acompanhava as discussões sobre a implantação do maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul, trabalhava no Programa de Industrialização do Interior (Prointer), idealizado por Manoel Barros Sobrinho. Era um programa de industrialização do Estado da Bahia conduzido pela Secretaria da Indústria e Comércio (SIC) que tinha Ângelo Calmon de Sá como titular.
No fim da década esse engenheiro foi levado para o Rio de Janeiro por Luiz Sande para ocupar o cargo de Diretor da Fibase, subsidiária do então BNDE. Naquele tempo todo o governo estava empenhado em executar o Plano Nacional do Desenvolvimento (PND). O PND continha uma série de programas que traziam como foco industrializar o País fazendo substituições de importações. Entre eles os mais bem sucedidos foram o de Celulose e Papel, Siderúrgico Nacional, Metais Não Ferrosos, Bens de Capital e o Petroquímico. Mas nenhum deles mobilizou mais a sociedade brasileira que este último.
A Petrobras e a Petroquisa estavam à frente do Programa Petroquímico definindo os projetos, negociando as tecnologias com as multinacionais do setor, colocando seus executivos na direção de cada um dos negócios, treinando em suas refinarias os operadores de processo e representando o governo no comando tripartite. O BNDE, trabalhando irmanado com a estatal do petróleo conseguia com grande êxito atrair capitais privados de construtores, banqueiros, fabricantes de celulose e papel e aqueles que já atuavam no setor químico, para abraçarem a ideia expandindo suas atividades. O BNDE montou um forte esquema de apoio com financiamentos a longo prazo e correção monetária pré-fixada, participação acionária e negociação das tecnologias.
O projeto petroquímico era bem concebido e não faltou apoio de todo o governo, destacando-se a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o Banco do Nordeste (BNB), Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), Governo do Estado da Bahia e Prefeitura Municipal de Camaçari, formando um conjunto uníssono que trabalhava em torno de um mesmo propósito, superando diferenças políticas, ideológicas, religiosas e regionais. O jovem engenheiro, Diretor da Fibase, que depois foi transformada em BNDES Participações S/A (BNDESPar), foi nomeado representante do agora Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no Grupo Setorial III (GSIII) da indústria química e petroquímica. Por lá passavam os projetos que mereceriam apoio do governo, tornado compulsória sua aprovação para que fossem implantados em Camaçari. Assim esse baiano foi integrado ao grupo de brasileiros que indicavam os projetos que deveriam ser instalados naquele parque industrial.
Esse engenheiro químico, formado pela Escola Politécnica da UFBA, retornou à Bahia em 1985 e presidiu duas das empresas do Polo, onde continuou prestando sua colaboração, inclusive como diretor do Sindicato das Empresas Petroquímicas do Estado da Bahia (Sinper) tendo vivido a experiência de ter liderado duas negociações de Convenções Coletivas do Trabalho. O Polo de Camaçari foi inaugurado no dia 29 de junho de 1978 com 26 unidades industriais funcionando. A construção se deu no mesmo local onde em 1962 a Petrobras iniciou a construção do Conjunto Petroquímico da Bahia (Copeb), uma pequena fábrica de amônia e ureia.
O conjunto industrial cresceu e se diversificou e foram construídas várias unidades da transformação petroquímica. Embora tenha havido alguns insucessos, de manufaturas que se inviabilizaram com o tempo, hoje a área conta com mais de 90 sítios industriais funcionando. Além de uma robusta infraestrutura industrial, com apoio logístico, de comunicações, de proteção ambiental, de higiene e segurança, dispõe de um diverso e competente grupo de profissionais da indústria. Todo esse conjunto não para de atrair novos negócios, inclusive montadoras de automóveis, fábrica de celulose solúvel, usina de beneficiamento de cobre e grande parque de tecnologia e inovação.
Em 28 de maio passado, o engenheiro autor deste artigo, hoje um senhor de idade, foi homenageado na reunião plenária de instalação da Bahia Oil & Gas Energy 2025, recebendo uma placa com os seguintes dizeres: “Homenagem do setor de petróleo e gás da Bahia em reconhecimento à brilhante carreira profissional, extraordinária contribuição técnico-acadêmica e excelso comportamento ético do engenheiro e professor, escritor, líder e amigo”. Na ocasião ele fez um breve discurso relatando a história aqui contada. Foi muito aplaudido quando encerrou sua alocução pronunciando duas palavras que costumava ouvir de seus netos: “Vô, valeu”.
Adary Oliveira - engenheiro químico e professor (Dr.).
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