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Artigo

O projeto Sergipe Águas Profundas

Adary Oliveira

24/04/2024 06h03

Foto: Divulgação

O projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP) foi apresentado pela Petrobras como a nova fronteira de exploração de petróleo e gás natural, teve seu investimento confirmado no Plano Estratégico 2022-2026 da petroleira estatal e seu início vem sendo postergado ano a ano sem nenhuma explicação que possa ser aceita pelos nordestinos. O SEAP tem localização a 100 km da costa na Bacia Alagoas Sergipe, em profundidades de até três mil metros e abrange a região de sete campos de produção: Budião, Budião Noroeste, Budião Sudeste, Palombeta, Cavala, Agulhinha e Agulhinha Oeste. Foi projetada a instalação de duas plataformas tipo FPSO, sendo que a primeira delas terá capacidade para produzir 120 mil barris de óleo e oito milhões de m3 de gás por dia. O sistema de escoamento de gás terá capacidade de transporte de 18 milhões de m3 por dia. Os investimentos nessa nova fronteira abrirão uma série de oportunidades para a indústria e serviços com geração de tributos e empregos diretos e indiretos.

Além da importância econômica o projeto SEAP excita a inovação e o desenvolvimento tecnológico, uma vez que demanda soluções avançadas para a exploração em ambientes marítimos desafiadores. Isso pode resultar em avanços significativos no setor de energia e em novas oportunidades de pesquisa e desenvolvimento na região. Além dos benefícios econômicos, a exploração de águas profundas pode trazer melhorias sociais para as comunidades locais, por meio de investimentos em infraestrutura, educação e saúde. Esse projeto também pode promover a capacitação profissional e a inclusão social, impactando positivamente a qualidade de vida da população.

Não se pode deixar de mencionar que de modo gral os projetos de exploração de recursos naturais como o Sergipe Águas Profundas sejam conduzidos de forma sustentável, respeitando o meio ambiente e adotando práticas que minimizem os impactos ambientais. A preservação dos ecossistemas marinhos e terrestres é fundamental para garantir o desenvolvimento sustentável da região a longo prazo.

A injeção de 18 milhões de m3 por dia de gás natural solucionaria com folga o problema de abastecimento dessa matéria prima para as duas fábricas de fertilizantes nitrogenados, principalmente amônia e ureia, localizadas em Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA), que juntas consomem cerca de 2,7 milhões de m3 por dia, inviabilizadas pela falta de gás natural a preço de mercado. Essas plantas, como se sabe, estão paradas, representando um prejuízo enorme para as famílias dos empregados que foram despedidos, para a União e governos dos Estados da Bahia e Sergipe que deixaram de arrecadar impostos, das misturadoras de adubos NPK que também paralisaram a produção, dos inúmeros prestadores de serviços que foram inativados e das divisas que o Brasil está tendo de dispender a mais com as importações desses insumos.

Além do mais, os estados nordestinos estão interligados por gasodutos, da Bahia ao Ceará, que conduzem o gás natural para suas cerâmicas, vidrarias, padarias, automóveis, caldeiras geradoras de vapor e termelétricas. O gás natural é consumido como combustível e como matéria prima e no momento é o combustível mais limpo em uso. Isso deve levar alegria e agradecimentos aos carvoeiros produtores e consumidores do carvão vegetal que, em conjunto com os lenhadores, além de poluírem mais participam das ações do desmatamento. Nada, portanto, justifica os adiamentos do projeto SEAP defendido pela Petrobras.

A Região Nordeste abriga quase 30% da população brasileira e sua participação no PIB nacional não alcança 13%. Não se pode desperdiçar oportunidades como essa de se promover a redução das desigualdades regionais, postergando a realização de tão importante investimento. O desejo de se construir no eixo Sergipe-Bahia um espaço produtor de fertilizantes, com ampliação da exploração do cloreto de potássio de Carmópolis (SE), da exploração da rocha fosfática de Irecê (BA) e reativação das fábricas de ureia e amônia de Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA), seria reforçado com a realização do projeto SEAP.

O Projeto Sergipe Águas Profundas representa uma oportunidade única para impulsionar o desenvolvimento econômico, tecnológico e social do Nordeste brasileiro. Ao mesmo tempo, é essencial que os benefícios gerados por essa iniciativa sejam equitativamente distribuídos e que os impactos ambientais sejam mitigados. O sucesso desse projeto pode servir de exemplo para outras regiões, demonstrando como a exploração responsável de recursos naturais pode ser um catalisador para o progresso sustentável.

Adary Oliveira - engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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