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Transporte Aéreo

Demanda reprimida faz passagem aérea ficar até 7 vezes mais cara

Trecho entre Salvador e Porto Alegre chega a custar mais de R$ 18 mil para o próximo final de semana

18/01/2022 14h30

Foto: Divulgação

Seja a trabalho, férias ou para prestar um concurso público, a procura por passagens aéreas só fez crescer desde o final de 2021. Além de ser alta estação, o que já torna os preços mais caros, a demanda reprimida, daqueles que não viajaram no início da pandemia, fez disparar os valores cobrados pelas companhias. Viajar de Salvador para São Paulo, por exemplo, chega a custar R$ 5.656,45, pela Azul, neste final de semana, com ida na sexta (21) e volta no dia 23. Segundo agentes de viagem, esse trecho costumava ser entre R$ 600 e R$ 700. Ou seja, ele está até sete vezes mais caro que o normal.  

Já para o Rio de janeiro, pela GOL, é preciso pagar R$ 4.469,06 pela viagem. Se o destino for Fortaleza, no Ceará, o valor é de, pelo menos, R$ 1.385. Em horário mais cômodo, ele chega a R$ 4.995,59. Para quem for a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a passagem mais barata sai por R$ 2.027, mas pode chegar ao preço de uma viagem internacional: R$ 18.645 - a ida, com duas escalas, em São Paulo e Brasília, e a volta, por voo direto, pelo site 123 Milhas.  

Segundo a vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (Abac-BA), Maria Ângela Carvalho, a malha aérea do Brasil ainda não voltou na mesma intensidade que deveria. "Estamos numa alta temporada, com uma demanda muito alta de passageiros e uma oferta baixa de voos. Isso faz puxar o preço para cima. Foram tirados muitos voos e, a partir de novembro, alguns retornaram, mas não de acordo com a demanda”, analisa Ângela.  

Ela estima que o aumento dos valores das passagens tenha sido entre 30 e 40%, o mesmo apontado pela sócia-diretora comercial da Happy Tour, Suzana Mamede, e um dos donos da Alcance Viagens, Luiz Carlos Silva César. “O preço da passagem depende muito, mas aumentou em torno de 30 a 40%. Depois da alta estação, acreditamos que eles vão se estabilizar, mas a demanda é muito alta. As pessoas estão viajando muito e a oferta de voos não condiz. É a lei de mercado, de oferta e procura”, esclarece a vice-presidente da Abav.  

Câmbio influencia 

Suzana Mamede, da Happy Tour, acredita que outros fatores tenham influenciado esse aumento, como a desvalorização do real em relação ao dólar e euro. “Estamos sendo impactados por todos os lados, pelo aumento de câmbio e a procura por viagens internacionais. Por isso, as companhias aéreas sobem o preço. Porém, vemos que nosso público está com muita vontade de viajar e voltar à vida normal. Isso está balanceando nosso negócio”, conta Suzana.  

Ela, que guiava uma excursão de 160 pessoas em Dubai, cita o episódio em que as passagens para São Paulo mais que triplicaram. “Nosso voo saiu de São Paulo, mas tínhamos que comprar o trecho doméstico, saindo de Salvador. Os preços foram lá para cima, por conta da especulação feita pelas companhias, trazendo mais sofrimento para o consumidor”, conta. De U$ 150 a 200, em dias normais, os clientes tiveram que pagar U$ 500 pelo trecho.  

Combustível é fator de aumento de preço 

Em relação à política tarifária, a Azul informou, por meio de nota, que os preços praticados variam de acordo com os seguintes fatores: trecho, sazonalidade, compra antecipada, disponibilidade de assentos, entre outros. A empresa também ressaltou que a alta do dólar e do combustível são elementos que influenciam nos valores das passagens. Nos últimos 12 meses, a moeda americana aumentou 7%. Já a gasolina e o diesel subiram quase 80%, no mesmo período.

Já a Latam argumentou que trabalha com o sistema de precificação dinâmica, assim como todo o setor aéreo. Segundo a empresa, diversos fatores são levados em consideração, “para oferecer a cada cliente o produto mais adequado, de acordo com a demanda de cada perfil de passageiro”. Assim como a Azul, a Latam disse que os preços das passagens variam de acordo com a compra antecipada, preço do combustível, sazonalidade, origem e destino do voo.

“O preço do combustível é um indicador importante na composição do preço da passagem, sendo que 65% dos custos da empresa são dolarizados e o combustível da aviação representa em torno de 35% das despesas. Esses indicadores, quando sofrem aumento, têm impacto direto na composição de custos das passagens aéreas”, esclarece a Latam. Ela ainda cita relatório da Anac, em que aponta que a companhia teve as tarifas médias mais baixas no 2ºe 3º trimestre de 2021.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ressalta que a precificação dos bilhetes aéreos é feita pelas companhias, tendo em vista o regime de liberdade tarifária no setor, instituído pelo governo federal em 2001 e ratificado pela Lei n° 11.182/2005.

Cabe à Agência realizar o acompanhamento permanente das tarifas comercializadas – correspondentes aos bilhetes de passagem efetivamente vendidos ao público em geral – pelas empresas em todas as linhas aéreas domésticas de passageiros. Esse levantamento pode ser consultado por meio da ferramenta Consulta Interativa, disponível no site da Anac.

Voos cancelados  

Pelo menos 37 voos foram cancelados, na segunda-feira (17), partindo ou chegando de alguma cidade da Bahia. Desses, 34 foram da Latam, para/de Salvador e Porto Seguro. Segundo a companhia, os cancelamentos vão até próximo domingo (23). Os outros três são da empresa Abaeté, com destino a Morro de São Paulo e Barra Grande. A Azul não informou a quantidade de voos cancelados. Pelo site do Salvador Aeroporto, a partir de 12h, não foi possível encontrar cancelamentos da companhia, nem da GOL, para as próximas 24h. O principal motivo é a falta de tripulantes devido aos casos de covid-19 confirmados ou em suspeita.

O geógrafo Marcel D’Alexandria, 33, já teve o voo de fevereiro, da Azul, cancelado. Ele irá ao Mato Grosso fazer uma prova para concurso público. Ele conseguiu remarcar a passagem, mas fará 16 horas de conexão e pagará um hotel para se hospedar. O advogado Léo Vitor de Abreu, 28, também foi fazer concurso, só que em Goiânia. Ele voltaria na madrugada, mas, teve que antecipar o voo e perdeu um dia de turismo na cidade. “Tinha me programado para isso”, conta.

No caso do policial militar Walter Alves Quinta Júnior, 38, o voo de volta para Goiânia foi cancelado na hora em que ele embarcava para Salvador. "A frustração já começou lá", confessa. Ele veio com a família para comemorar os 73 anos da mãe. Por estar com duas idosas e uma criança de 11 anos, ele optou por voo direto, mas, com a remarcação, só tinha uma opção, fazendo escala em Viracopos, Campinas. Antes, a volta seria na madrugada. "O que era um voo direto virou praticamente 24h. O problema maior é ficar o tempo todo no aeroporto com duas idosas e uma criança", lamenta. Por conta disso, Júnior teve que gastar mais uma diária em hotel. A companhia aérea Azul ainda não tinha fornecido o voucher.

Um dos donos da Alcance Viagens, Luiz Carlos Silva César, diz que os cancelamentos influenciaram no aumento das passagens. “Para as pessoas que tiveram os voos cancelados, a passagem não ficou mais cara, mas, para os novos passageiros, sim, porque os lugares já estão ocupados”, afirma. Ele ainda cita aumento do custo operacional, por conta dos protocolos sanitários da covid-19 e combustível como um dos fatores de encarecimento.

Como comprar passagem barata 

A consultora de vendas do Grupo Salvatur Turismo, Doran Moura, dá algumas dicas para quem quer comprar passagens mais baratas. Segunda ela, é preciso evitar passagens com ida às sextas-feiras e retorno aos domingos. “O final de semana sempre é mais caro. Dê preferência a voar numa terça ou quarta. Isso evita também transtornos no aeroporto, filas e problemas de viagem”, explica.  

O que mais influencia é a antecedência. “Nunca se deve adquirir passagem 10 dias antes, salvo se for extremamente urgente. O mínimo que se deve buscar fazer são 30 dias antes. Se for em período de férias, como julho, janeiro, é preciso pesquisar dois a três meses antes da data”, orienta. Ela ainda diz que as companhias permitem parcelamento de até 10 vezes, o que facilita a compra. Além disso, a preferência da consulta deve ser pelo site da própria companhia aérea ou de agências de viagem com selo de confiança da Abav.  

A consultora de vendas do Grupo Salvatur Turismo, Doran Moura, que tem mais de 30 anos na área, acredita que esse aumento nos valores das passagens já vem acontecendo há algum tempo. Quem compra em cima da hora paga mais caro. “A antecedência vale mais do que a época em que você compra, porque as companhias aéreas colocam tarifas baseadas na ocupação do voo. Quanto mais perto da data, mais caro vai ficar”, afirma.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que vem monitorando as medidas operacionais adotadas pelas companhias aéreas para minimizar os impactos causados pelos atrasos e cancelamentos de voos, bem como o cumprimento da prestação de assistência aos passageiros, determinadas pela Resolução 400/2016.

Essa resolução estabelece as seguintes regras: manter o passageiro informado a cada 30 minutos quanto à previsão de partida dos voos atrasados; informar imediatamente a ocorrência do atraso, do cancelamento e da interrupção do serviço; oferecer, gratuitamente, de acordo com o tempo de espera, assistência material; e oferecer reacomodação e reembolso integral, cabendo a escolha ao passageiro, quando houver atraso de voo superior a 4 horas ou quando houver cancelamento.

Fonte: Correio