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Transporte Aéreo

Delta pode ter que pagar dívida de US$ 300 milhões da Gol

Dívida vence nesta segunda-feira (31) mas aérea brasileira tem apenas US$ 1,6 bilhão em caixa

30/08/2020 17h10

Foto: Divulgação

A Delta Air Lines enfrenta uma nova dor de cabeça na América Latina à medida que o prazo de segunda-feira (31) se aproxima para a ex-sócia Gol pagar um empréstimo de US$ 300 milhões garantidos pela empresa norte-americana.

Se a Gol não pagar —o que as agências de rating dizem ser provável— a Delta teria que honrar a dívida em nome da Gol, honrando o acordo de cinco anos. Mas, assim como a Gol, a Delta, que disse em julho estar queimando US$ 27 milhões por dia, tem pouco para gastar devido à pandemia do coronavírus.

O problema com a Gol é apenas o último desafio da Delta, cujos investimentos na América Latina, antes vistos como uma área de crescimento, fracassaram devido à Covid-19. A participação de 49% da Delta na Aeromexico e de 20% na Latam Airlines corre risco de diluição ou virarem pó, uma vez que ambas as aéreas passam por reestruturação por recuperação judicial ou falência.

Para a Gol, o vencimento do empréstimo apoiado pela Delta ocorre em meio a uma severa crise de caixa. O empréstimo foi concedido por investidores privados não identificados. "A Gol está enfrentando queima de caixa constante sem possibilidades de refinanciamento", disse Amalia Bulacios, que cobre a Gol para a S&P, que classifica sua dívida como CCC-.

Na segunda-feira, antes de pagar o empréstimo, a Gol poderia ter apenas R$ 1,6 bilhão em caixa, calculou a agência de notícias Reuters. O cálculo é baseado no caixa e equivalentes da Gol, bem como seus investimentos líquidos, em 30 de junho, menos o consumo de caixa esperado de R$ 3 milhões por dia.

Uma fonte familiarizada com o assunto disse que negociações estão ocorrendo. A Gol e a Delta não confirmaram.

A situação é similar à da colombiana Avianca em maio, quando entrou com pedido de falência devido ao prazo de amortização da dívida no dia seguinte. Mas analistas disseram que as necessidades de reestruturação da Gol são bem mais simples do que as da Avianca e podem ocorrer fora do tribunal.

Mas levantar dinheiro na última hora parece improvável. Embora o governo brasileiro tenha oferecido à Gol R$ 2 bilhões em empréstimos, duas fontes disseram que o dinheiro não será liberado a menos que a Gol consiga adiar o prazo de sua dívida.

O Brasil quer que os recursos sejam usados ​​nas operações da companhia aérea, não para reembolsar credores. Enquanto isso, os executivos da Gol reconheceram no mês passado que a companhia aérea tem poucas perspectivas de levantar novo capital.

"Há uma certa aversão ao Brasil, uma certa aversão às companhias aéreas, e então estamos no meio disso", disse o vice-presidente de finanças da Gol, Richard Lark, em teleconferência de resultados.

Os problemas de dívida da Gol mostram a rapidez com que o coronavírus alterou os balanços das aéreas em todo o mundo.

Durante anos, a Gol subestimou a importância do empréstimo de US$ 300 milhões. Os executivos disseram não apenas que o reembolsariam integralmente, mas que o fariam antes do prazo.

Em 25 de fevereiro, mesmo com a pandemia devastando a Ásia e a Europa, uma apresentação da Gol disse que a companhia aérea "não tinha vencimentos relevantes nos próximos cinco anos".

Agora, o futuro da Gol está em jogo por causa do vencimento do empréstimo antes aparentemente insignificante. A Delta, que há muito se expande em todo o mundo comprando em outras operadoras, em 2015 injetou US$ 56 milhões na Gol e garantiu o empréstimo de US$ 300 milhões. Na época, executivos da Gol disseram que não poderiam ter aumentado a dívida sem o apoio da Delta.

A Delta vendeu sua participação na Gol em 2019 para comprar uma fatia na rival Latam, mas manteve a garantia do empréstimo. Se a Gol não fizer o pagamento, a Delta terá a opção de ter a participação da aérea brasileira na empresa de programa de fidelidade Smiles, que garantiu o empréstimo.

Mas a participação da Gol na Smiles vale apenas R$ 954 milhões. E o programa de fidelidade tem pouco valor estratégico, visto que a Delta trocou a Gol pela Latam.

"Se a Delta fizer isso, estrangulará o caixa da Gol, colocará em risco a sobrevivência da Gol e se tornará acionista da Smiles, uma empresa que precisa da Gol para ter sucesso", disse Ricardo Fenelon, ex-chefe da Anac. "Não faz muito sentido."

Fonte: Reuters