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Editorial

A onda da irresponsabilidade e inconsequência

Pesquisadores apontam que o Brasil vive 'início de 2ª onda' de Covid-19 por falta de testes, de política centralizada e de isolamento social

24/11/2020 14h00

O Brasil está vivendo, mais cedo que se esperava, o início de uma segunda onda da pandemia da Covid-19, quadro evidenciado pelo rápido crescimento do número de casos e de mortes em todo o País, após um breve período de estabilidade e até de queda significativa nos números da doença. Vários países, nos quais a pandemia foi detectada mais cedo, já estão enfrentando a chamada segunda onda, com alguns tendo que retornar ao sistema de restrição severa de movimentação, isolamento social e fechamento de bares e restaurantes.

Pelo visto, a população e as autoridades brasileiras decidiram não se aproveitar da experiência dos demais países para evitar, ou adiar, esta fase de retomada acelerada da Covid-19, uma vez que, de acordo com pesquisadores de cinco universidades, a antecipação da segunda onda, até porque ainda vivemos os efeitos da “primeira onda”, decorre de alguns fatores facilmente evitados: 1- Falta de testagem sistemática com rastreamento de casos; 2 - Falta de uma política central coordenada, clara e eficaz de enfrentamento da situação; e 3: Afrouxamento das medidas de isolamento sem evidências empíricas, sem uma análise cuidadosa por um painel de especialistas.

Além disso, mas não menos grave, tem sido a sistemática queda dos níveis de isolamento social, resultado direto da ausência de eficientes campanhas de esclarecimento e a falsa sensação de segurança disseminada na população. Apesar dos alertas feitos pelos meios de comunicação, insistindo na necessidade de manutenção de todos os cuidados preventivos adotados na fase mais dura da pandemia, a exemplo do uso permanente de máscaras, higienização constante das mãos e evitar aglomerações, têm sido cada vez mais comuns os exemplos de desrespeito àquelas práticas.

Diariamente são noticiados casos de festas, nas ruas e em locais fechados, com pessoas bebendo e dançando como se tudo tivesse voltado ao normal. A campanha eleitoral também não contribuiu para a prevenção, uma vez que muitos candidatos continuaram a realizar passeatas, colocando trios elétricos nas ruas e estimulando as pessoas a esquecerem das milhares de mortes e festejarem, como se não houvesse o amanhã e tal comportamento irresponsável não fosse cobrado posteriormente da forma mais trágica, com novas mortes e internamentos hospitalares.

As recomendações dos pesquisadores para evitar que a retomada da gravidade da pandemia seja contida e seus efeitos minimizados são: a- Gestores públicos devem basear suas decisões na melhor evidência científica disponível; b - Estabelecer uma coordenação central no governo federal; c - Políticas de isolamento e distanciamento social devem ser intensificadas o quanto antes, até atingir um controle efetivo da pandemia; d - Implementar uma extensa política de testagem de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, com o rastreamento e isolamento de contatos; e - Realizar extensas campanhas públicas de informação da população; f - Implementação de real e efetivo apoio financeiro aos cidadãos menos favorecidos.

Como se pode ver, providências simples e ditadas pelo mais puro bom senso.

A questão é fazer com que as lideranças realmente decidam se empenhar, deixando de lado as querelas políticas, e passem a agir pensando exclusivamente no bem de toda a população. E que, nós, população, entendamos de uma vez por todas que a situação ainda é muito grave e que é muito melhor adiar as festas e confraternizações do que antecipar o sofrimento e a dor das perdas que certamente virão no futuro se agirmos de forma inconsequente agora.