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Artigo

Um sistema de transportes para a BTS

Waldeck Ornélas

07/02/2024 06h01

Foto: Divulgação

É crescente o interesse que a Baía de Todos os Santos (BTS) tem despertado nas diversas esferas da sociedade baiana. Temas novos, como a economia do mar, recém incorporado ao debate, via Associação Comercial da Bahia, reivindicando o título e a condição de Capital da Amazônia Azul. As questões infraestruturais, especialmente os portos – em número de onze – e os acessos ferroviários – uma carência – mobilizam outros atores. Participo de um cibergrupo onde uma centena de profissionais e especialistas de diversas áreas discutem as várias dimensões da nossa Kirimure – como a chamavam os Tupinambás: conservação ambiental, observação de baleias, preservação do saveiro, gastronomia regional, turismo e esporte náuticos, combate à pesca com bomba, festas religiosas e assim por diante. Uma pauta aberta e diversificada, a demonstrar a relevância e as múltiplas faces desse imenso mar interior – a segunda maior baía do nosso planeta.

Finalmente, começa-se a olhar – e ver – a BTS em seu conjunto, de dentro para fora, como território molhado (1.233km²), uma unidade de planejamento e gestão, ainda que embrionariamente. A questão humana que envolve, seus aspectos sociais, culturais e econômicos, e o sistema de cidades que gravita às suas margens – e todo o Recôncavo – demandam atenção e equacionamento, para fazer valer a importância histórica e o imenso potencial de desenvolvimento que nos oferece.

Um tema em especial voltou, neste início de ano, a chamar a atenção de todos, inclusive nacionalmente, e por motivos trágicos: a ocorrência de mais um acidente, envolvendo o precário sistema de transporte de passageiros, outra vez com perda de vidas humanas. É um alerta recorrente, que precisa ser olhado com atenção e presteza. Não basta, a cada caso, lamentar as vítimas, abrir inquéritos, quantificar os prejuízos, identificar falhas e omissões. É indispensável resolver o problema!

A resposta para isto é uma só: o desenvolvimento de uma sistema de transporte de passageiros eficiente, organizado e moderno, para a Baía de Todos os Santos. Faz tempo se impõe a elaboração de um plano de transportes que, implantado, possa atender a moradores e turistas, reativar o colar de cidades, em número de dezessete, que envolve a BTS e recuperar o dinamismo dessa importante e histórica região baiana – o Recôncavo (BTS: metropolização ambiental, Correio 3/10/2019).

Sou do tempo em que vir à cidade da Bahia, como era chamada Salvador, a capital do Estado, envolvia o transporte marítimo pela BTS, em um dos vapores da antiga Companhia de Navegação Bahiana. Quantas vezes viajei no Maragogipe, fazendo o percurso de São Roque do Paraguaçu a Salvador, para estudar na capital. Quem nunca ouviu, em verso musical, que “o vapor de Cachoeira não navega mais no mar”?

Sim, o que precisamos é de um sistema de transporte para passageiros, um serviço para as pessoas. Com a ascensão do rodoviarismo, o transporte marítimo foi abandonado. Sua substituição pelo ferry-boat foi para atender aos automóveis. Ainda agora, ao invés de enfrentar a ineficiência do ferry-boat, com modernização e gerenciamento, o que está proposto é uma ponte sobre a baía, solução em que, mais uma vez, é o olhar para o automóvel que prevalece.   

Mas as pessoas existem e elas “teimam” em circular pela Baía. As pessoas não apenas ocuparam o ferry-boat – um sistema dedicado aos automóveis – como viabilizaram várias linhas alternativas, algumas regularizadas, como a ligação Mar Grande-Salvador. São diversas as linhas de transporte, por assim dizer clandestinas, e que, ante a omissão do Poder Público, operam precariamente, sem regularidade, com embarcações inadequadas, sem controle de segurança, mas atendendo à necessidade de ir e vir das pessoas. Um plano de transporte de passageiros haverá de levar à criação e à concessão das linhas, fiscalização regular, conforto e segurança para as pessoas.     

Um sistema de transporte de passageiros para a Baía de Todos os Santos é URGENTE e INADIÁVEL! “Arriba o pano, toca o búzio, nós queremos navegar”.

Waldeck Ornélas - especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos seus autores. Não representa exatamente a opinião do MODAIS EM FOCO.