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Economia

Transporte por aplicativo acumula inflação de 44,49%

A taxa mais recente é a maior em quase três anos de acordo com dados do IPCA

29/07/2025 13h25

Foto: Divulgação

A inflação do transporte por aplicativo acelerou de 5% em maio para 13,77% em junho no Brasil, de acordo com dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Com o resultado, a alta acumulada pelos preços em 12 meses passou de 23,43% para 44,49%. A taxa mais recente é a maior em quase três anos, desde julho de 2022 (49,78%).

O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil. A pesquisa abrange uma cesta de 377 bens e serviços.

Desse total, apenas o café moído (77,88%) acumulou alta maior que o avanço do transporte por app (44,49%) nos 12 meses até junho. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é responsável pelos cálculos do IPCA.

Ao subir 13,77% em junho, o transporte por aplicativo teve a maior inflação para um mês desde dezembro do ano passado. Na ocasião, o serviço havia registrado aumento de 20,7%.

Questionado sobre os dados de junho, o IBGE afirmou que várias questões podem ter influenciado a carestia.

Tarifas dinâmicas, que sobem com a procura dos usuários, e movimentação maior de passageiros devido ao calendário de feriados, eventos ou viagens fazem parte da lista, segundo o instituto.

O órgão também destacou que os preços do transporte por aplicativo aumentaram em junho nas 13 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas.

As variações mais intensas, segundo o IPCA, ocorreram em Porto Alegre (17,03%) e São Paulo (16,29%). O Rio teve a menor alta (9,1%).

Nos 12 meses até junho, o serviço também ficou mais caro em todas as 13 áreas investigadas. Brasília (62,14%) e São Paulo (55,63%) acumularam as maiores altas nesse período, enquanto Belo Horizonte (20,33%) mostrou o menor avanço.

"O preço das viagens é influenciado por fatores como o tempo e distância dos deslocamentos, categoria do veículo escolhido, nível de demanda por corridas no horário e local específicos, entre outros", afirmou a Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), que representa empresas do setor.

"A depender destes fatores, os valores podem ter variação dinâmica e alinhados com as estratégias comerciais de cada plataforma para manter o equilíbrio e a competitividade no mercado no qual atuam", acrescentou.

Uber e 99 estão entre as empresas associadas à Amobitec. A entidade disse desconhecer a metodologia específica do IPCA para a coleta dos preços das corridas.

Conforme a associação, as empresas operam modelos de negócios que buscam equilibrar os interesses dos motoristas, que obtêm renda a partir dos aplicativos, com a situação econômica dos usuários, que procuram formas acessíveis de mobilidade.

O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), avalia que o principal fator de pressão sobre a inflação do transporte por app é a demanda dos consumidores.

"É um serviço que se sustenta pela procura. Se a procura é pequena, os preços não se sustentam altos."

A pesquisadora Maria Andreia Parente Lameiras, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), também considera que a demanda aquecida pode ter pressionado a inflação.

"As pessoas estão com mais dinheiro para consumir esse tipo de serviço", afirma Maria Andreia, em uma referência aos ganhos de renda dos brasileiros com a recuperação do mercado de trabalho.

Segundo ela, o emprego em alta também pode ter reduzido a oferta de motoristas em determinadas situações, gerando reflexos para os preços.

"O boom do transporte por aplicativo veio naquele momento em que o mercado de trabalho estava muito ruim. Pessoas que não tinham renda enxergavam esse caminho", diz.

"Como o mercado de trabalho está melhor agora, pode ser que uma parte [dos motoristas] esteja voltando para as ocupações de origem", acrescenta.

Em junho, a Amobitec divulgou uma pesquisa sobre o tema que compara dados de 2022 e 2024.

Nesse período de dois anos, o número de motoristas de apps de transporte de passageiros cresceu em torno de 35% no Brasil (de 1,3 milhão para 1,7 milhão), segundo o estudo, conduzido pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

A pesquisa considerou trabalhadores que fizeram ao menos uma viagem entre agosto e novembro de cada um dos anos.

Custos sobem para motoristas

Parte dos custos que impactam o bolso dos motoristas ficou mais cara. Nos 12 meses até junho, o aluguel de veículo acumulou inflação de 16,13%, segundo o IPCA.

Etanol (11,21%), conserto de automóvel (10,15%), seguro (9,21%) e gasolina (6,6%) também mostraram avanços nos preços. Todos registraram altas acima da variação geral do IPCA no mesmo período (5,35%).

O táxi, outra forma de transporte individual de passageiros, acumulou inflação de 4,22% nos 12 meses até junho, ainda segundo o índice do IBGE. Os dados do IPCA foram publicados pelo instituto no último dia 10.

Na sexta (25), o órgão divulgou o IPCA-15 relativo a julho. Trata-se de uma espécie de indicador prévio do IPCA.

O transporte por aplicativo subiu 14,55% no IPCA-15 de julho. É a maior variação desde novembro de 2021 (16,23%).

Com o resultado, o serviço acumulou alta de 20,61% nos 12 meses até julho no IPCA-15. É o maior aumento nesse recorte desde outubro de 2022 (32,32%).

A coleta dos preços dos bens e serviços pesquisados no IPCA-15 ocorreu de 14 de junho a 15 de julho, disse o IBGE.

Já o IPCA se concentra no mês cheio. Por isso, os dados de julho ainda não são conhecidos.

Fonte: Folhapress