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Artigo

Reflexões sobre a COP28

Eduardo Athayde

17/01/2024 06h05

Foto: Divulgação

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), foi encerrada na segunda semana de dezembro, nos Emirados Árabes Unidos, com a declaração a favor de uma ‘transição energética’ que permita abandonar progressivamente o uso dos combustíveis fósseis.

O anfitrião, Dubai, apresentou estratégia para zerar suas emissões de CO2 até 2050, propondo um balanço “neutro” de emissões de gases do efeito estufa, como estipula o Acordo de Paris de 2015. Do texto da COP28 foi excluída a proposta de eliminar o uso de combustíveis fósseis: “estabelecemos as bases para alcançar uma mudança transformadora histórica”, afirmou o presidente da conferência, Sultan Ahmed Al Jaber.

Entregue pelos representantes dos 198 países presentes na cúpula, o documento final da COP28 destaca avanços nas questões de transição energética: os combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão), deverão, até 2050, ser substituídos por energias limpas. De acordo com o Balanço Global (Global Stocktake – GST), os países devem adotar “a transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de uma forma justa, ordenada e de forma equitativa, acelerando a ação nesta década crítica, de modo a atingir zero emissões líquidas até 2050 de acordo com a ciência”. 

Para atingir o Acordo de Paris o mundo precisaria ser Net Zero até 2034, o que é pouco provável. A maioria dos compromissos anunciados pelas empresas é para 2050 e o investimento global necessário para atingirmos o acordo de Paris, até 2050, é estimado em US$ 5 trilhões. Segundo a Ernst Young, as emissões globais, ainda em crescimento, só devem começar a declinar a cair em 2035.

Mega eventos contínuos, como as COP, estimulando tendências da governança socioeconômica e ambiental (ESG), aquecem mercados. Considerado o mais volumoso e duradouro acordo com uma climatech, o Boston Consulting Group (BCG), uma das maiores consultorias do mundo, fechou contrato com a startup suíça de captura de carbono para a compra de 80 mil créditos de carbono ao longo de 15 anos. A climatech vendeu créditos para o J.P. Morgan Chase, há poucos meses, por US$ 800 a tonelada de CO2. Determinar a quantidade de carbono pré-contratada, é um facilitador para a indústria. “Sem a remoção de carbono, o Net Zero está fora de alcance”, disse o chefe de sustentabilidade do BCG, David Webb. 

Acompanhando a rápida evolução da transição energética que pressupõe a ´desfossilização´ dos sistemas e, apostando nos Mercados Voluntários de Carbono (VCM) que oferecerem um caminho promissor para alcançar objetivos das alterações climáticas; a B3, bolsa de valores de São Paulo, anunciou a criação de plataforma, no início de 2024, para negociar créditos de carbono, através de parceria com a AirCarbon Exchange, uma bolsa digital para comercialização de créditos de carbono que negocia créditos em mais de 30 países. Essa nova iniciativa permitirá a vendedores de créditos gerados no Brasil, encontrarem compradores dentro e fora do país. Um modelo de leilão já foi usado com bicicletas compartilhadas, ofertando 750 créditos de carbono de micromobilidade, com lotes arrematados pelo valor aproximado de US$ 8,50 a tonelada de carbono.

Na corrida por energia limpas e renováveis - ODS 7 - 90% dos painéis solares do mundo são de silício cristalino convencionais, iniciados nos EUA na década de 50. Atualmente, a indústria cresce cerca de 30% ao ano. Impactantes inovações no setor, trazidas pela Tesla, revelam o desenvolvimento de um novo painel solar que não depende de silício para a geração de energia, com um novo painel solar ferroelétrico, revestido com camadas cristalinas de Titanato de Bário, Estrôncio e Cálcio, materiais mais leves, mais baratos e mais fáceis de fabricar, que custam apenas US$ 0,20 por Watt, 10 vezes menos que os antigos modelos convencionais. Essa crescente rota energética, desfossilizante, compete por investimentos.

Em uma COP com cerca de cem mil participantes, onde todos oferecem propostas, negociam posições e – pela saturação de ofertas – acabam divulgando-se para si próprios, com preciosas exceções, o Brasil levou para a COP28 uma delegação de cerca de 2.500 pessoas com acesso livre à 'blue zone' da conferência. O peso dos seus ativos naturais, como a biodiversidade dos diferentes biomas, as fontes energéticas renováveis e seus potenciais para produção do hidrogênio verde, a mineração e o agro, está sempre em destaque. Soluções domésticas avançadas, focadas na ESG, mantendo os compromissos firmados no Acordo de Paris para redução das emissões, dependem da performance conjunta de todos os signatários.

Exibindo abundantes e incomparáveis potencialidades naturais, exploradas, na maioria, por tecnologias importadas, os representantes brasileiros debateram, à exaustão, a Amazônia Verde, esquecendo de mostrar um manancial seu ainda desconhecido pelo mundo: o potencial da economia do mar na sua Amazônia Azul (novo mapa IBGE).

Maior que a verde, a Amazônia Azul - que tem por capital a Baía de Todos os Santos - abrange uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) oceânica de 5,7 milhões de km², circundante à toda costa brasileira, com 200 milhas náuticas de largura, onde é movimentada uma economia de cerca de 2 trilhões de reais/ano – valor equivalente ao do agronegócio – produzido por atividades como portuária, logísticas do comercio exterior e cabotagem, petróleo e gás, eólicas offshore, mineração, pesca, náutica, turismo, tecnologias de gestão e monitoramento, e defesa – onde a lâmina d´água, o solo e o subsolo, pertencentes ao país, são adicionados ao território seco nacional.

Um geobiodiverso território molhado, pouco conhecido e explorado, que amplia o mapa brasileiro para 14,2 milhões de km² (IBGE). Em 2025, a COP30 reunirá o mundo em Belém, exatamente na rota de encontro da Amazônia Verde com a Amazônia Azul.

Eduardo Athayde - diretor do WWI no Brasil. [email protected]

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