17/05/2020 13h30
Foto: Divulgação
Embora no Brasil, a reciclagem ainda não seja levada tão a sério, muitas pesquisas já demonstraram que a prática é uma das mais importantes, não só para a preservação e redução dos danos ao meio ambiente, mas para a própria sobrevivência da espécie humana. Afinal, a quantidade de lixo produzida pelas atividades humanas já é um problema mundial, haja vista a grande quantidade de notícias diárias a respeito dos impactos dos plásticos no meio ambiente, principalmente na vida de animais marinhos. Reciclar é tão importante que está presente em vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015.
Neste 17 de maio, quando se comemora o Dia Internacional da Reciclagem, instituído pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura), justamente como forma de estimular a reflexão sobre a importância de fazer o descarte adequado dos resíduos relativos aos itens de nosso consumo, é preciso que a sociedade pare um pouco para pensar no assunto. Alguns materiais, a exemplo de determinados plásticos, demoram centenas de anos para se decompor, por isso, a conscientização sobre seu consumo, uso, reaproveitamento e descarte adequado é essencial para construir uma sociedade sustentável.
A reciclagem é termo genericamente utilizado para designar o reaproveitamento de materiais inservíveis, beneficiados como matéria-prima para transformar em um novo produto, conforme prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Além do reaproveitamento do resíduo como matéria-prima de novos produtos, o que gera economia para as empresas, há outros benefícios, como: redução no gasto de energia; redução dos gases de efeito estufa (GEE); preservação de fontes de matéria-prima; diminuição do gasto com aterros sanitários; e, ainda por cima, gera empregos. Neste último tópico, é preciso salientar que a maior criação de empregos e geração de renda beneficia, principalmente a população mais pobre.
Descaso no Brasil
O Brasil é o quarto maior produtor de lixo no mundo, contudo, o percentual de reciclagem, segundo levantamento do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) no período de 2018/2019, foi de apenas 1,28%. Ressalta-se que o Brasil produz aproximadamente 55 trilhões de quilos de resíduos por ano, valores que correspondem a cerca de 1,15 kg de lixo gerado diariamente por cada brasileiro.
Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública federal vinculada ao Ministério da Economia, de todos os resíduos sólidos urbanos produzidos no Brasil, entre 30% e 40% deles poderiam ser reaproveitados ou reciclados. No entanto, apenas 13% desse total acaba sendo encaminhado para reciclagem. Apesar disso, algumas cidades brasileiras se destacam nessa questão, como é o caso das capitais Belo Horizonte e Curitiba.
Nessas cidades existem programas de incentivo à reciclagem, com locais apropriados para o descarte dos materiais, além de recolhimento porta a porta. Na capital paranaense, cerca de 20% do lixo produzido é separado para ser reciclado. Além disso, há recolhimento, em pontos de coleta, de óleo de cozinha e lixo tóxico, como bateria, pilhas e remédios. Esses resíduos não são recicláveis, mas também não podem ser descartados em aterros sanitários, pois contaminam o solo e a água.
No mundo, alguns países são exemplos nesse assunto. Áustria, Alemanha, Bélgica e Holanda são os países que reciclam mais de 50% do lixo produzido. Isso impacta diretamente no turismo e na geração de renda desses lugares.
Realidade brasileira
As cooperativas de catadores de lixo são responsáveis por 50% da coleta de materiais para reciclagem no Brasil. Atualmente, há cerca de 800 mil catadores, sendo que 30 mil estão organizados em cooperativas e o restante trabalha de forma autônoma. Segundo o presidente do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), o mercado de reciclagem movimentou, em 2016, cerca de R$ 3 bilhões, gerando renda, empregos e aumentando a qualidade de vida dessas pessoas.
Apesar de toda a importância do trabalho que desenvolve, as Cooperativas de Catadores de Resíduos Recicláveis vêm sofrendo bastante no Brasil, principalmente com a queda dos preços para venda dos resíduos que coletam nas cidades. Ante a crise provocada pela pandemia do Coronavírus (Covid-19) muitas cooperativas precisaram suspender boa parte de sua atividade principal (coleta seletiva) devido ao fechamento e/ou diminuição dos horários de funcionamento dos condomínios, escolas, empresas e demais parceiros, como é o caso da CAEC – Cooperativa de Catadores e Agentes Ecológicos em Salvador, que registra atualmente uma queda de mais de 50% do volume de materiais recicláveis que são coletados por ela.
O presidente da CAEC, João Marcos da Conceição Pessoa, informa que o trabalho interno de beneficiamento dos recicláveis está bem reduzido, pois os catadores e catadoras que fazem parte do grupo de risco precisaram ser afastados das suas atividades. Segundo ele, os poucos recicláveis que chegam, estão ficando de quarentena, pois o vírus pode sobreviver até 5 dias na superfície de alguns tipos de materiais. Para piorar a situação dos catadores e catadoras, os compradores dos materiais recicláveis não estão comprando ou reduzindo significativamente os preços pagos.
A CAEC , no intuito de reduzir um pouco os impactos negativos desta crise, promove uma campanha de financiamento coletivo para superar esse momento (vaquinha solidária). E certa do espírito de parceria, solidariedade e compromisso socioambiental, conta com a ajuda da sociedade em geral para garantir uma cesta básica às 64 famílias que estão lutando para passar por essa crise com dignidade. A campanha foi ao ar através da plataforma de crowdfunding do Catarse.