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Artigo

Outubro Rosa

Elisa Lucas

23/10/2020 17h00

Foto: Divulgação

O Outubro Rosa é um movimento mundial que simboliza a luta contra o câncer de mama. Sua primeira iniciativa no Brasil foi em 02 de outubro de 2002, na comemoração dos 70 Anos do Encerramento da Revolução, com a iluminação do monumento Mausoléu do Soldado Constitucionalista (mais conhecido como o Obelisco do Ibirapuera – São Paulo/SP).

Em outubro de 2008, diversas entidades relacionadas ao câncer de mama iluminaram de rosa monumentos e prédios em suas cidades, ano em que a campanha foi oficialmente abraçada pelo Brasil, quando a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi iluminada de rosa.

Aos poucos, o Brasil inteiro se rendeu a esse movimento, sendo o laço, símbolo da campanha, um alerta.

Na história, o primeiro laço relevante foi o amarelo. Em 1917, George A. Norton interpretou, pela primeira vez, a canção “Round Her Neck She Wears a Yellow Ribbon”, reproduzida numa marcha cantada pelo exército norte-americano. A canção falava da prática de amarrar uma fita amarela em um antigo carvalho utilizado pelas mulheres para mostrar devoção aos soldados, o que acabou se tornando uma demonstração de saudades e pedidos de volta para casa.

Em 1979, o laço voltou a ser usado. Penney Laingen, esposa de um soldado refém na Guerra do Irã, foi a primeira pessoa a usar o laço como símbolo de alerta. Ela colocou laços amarelos em várias árvores, representando o desejo de que o seu marido fosse libertado, o que virou um símbolo usado por soldados, em 1991, na Guerra do Golfo Pérsico.

Também nos anos 90, ativistas da luta contra a AIDS, inspirados pela força simbólica do laço, decidiram usá-lo em vermelho, a cor da paixão. Durante o Tony Awards, o ator Jeremy Irons foi fotografado com um laço vermelho no peito, tornando-o um ícone popular.

A história do laço rosa surgiu quando foi distribuído pela Fundação Susan G. Komen for the Cure na primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1990, promovida anualmente desde então. A distribuição do laço continuou nos anos seguintes, e o The New York Times declarou 1992 como o ano do Laço Cor-de-Rosa.

Para além de toda a história, o Laço Cor-de-Rosa representa todas as mulheres. Independentemente de terem se deparado ou não com a doença, esse símbolo representa todas nós. Representa, também, os homens que nos amam, nos respeitam e nos acolhem.

O Laço Cor-de-Rosa não representa dor, representa luta!

Por experiência própria, posso dizer que jamais, em nenhuma situação vivida antes, me deparei com tanta beleza no mundo feminino. Logo eu, que dizia que na próxima encarnação gostaria de voltar homem, desdigo isso veementemente. Ser mulher não se encerra num corpo, num gênero, numa orientação sexual. A feminilidade floresce na empatia verdadeira, na irmandade sólida, na generosidade compartilhada.

O Outubro Rosa trata de um problema que, mesmo não sendo exclusivo das mulheres, aponta para o universo feminino. Quanta beleza há nesse universo, nos olhares amorosos e maternos, no acolhimento visceral. Sentimos tanto medo da perda dos cabelos, das cicatrizes nos seios, das queimaduras, da fraqueza, do corpo debilitado, e posso afirmar que nunca convivi com mulheres tão belas.

Era o olhar, a sabedoria, a feminilidade aflorada, talvez porque desnudadas dos outros símbolos considerados representativos da beleza. Não vi nenhum olhar de pena direcionado de uma mulher para a outra, nenhum olhar de superioridade. Doentes, não doentes, carecas, com perucas, quem não precisou perder os cabelos, todas são e tratam-se como iguais.

Nada é fácil. As mulheres que não podem se tratar, os exames inacessíveis, o plano de saúde que libera um seio e não libera o outro para a cirurgia profilática, as mulheres que são chefes de família e precisam trabalhar duro durante o tratamento...

Contudo, ficarei com a beleza da gratidão.

“Minha beleza não é efêmera

Como o que eu vejo em bancas por aí

Minha natureza é mais que estampa

É um belo samba que ainda está por vir

Bobagem pouca, besteira

Recíproca nula, a gente espera

Mero incidente corriqueiro

Ser mulher a vida inteira”

Céu

 

Elisa Lucas - Bacharela em Direito. Assessora do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. [email protected]

Artigo publicado no jornal Tribuna da Bahia