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Transporte Terrestre

Nissan demite quase 400 trabalhadores em fábrica de Resende

Funcionários estavam há dois meses em suspensão de contrato prevista na MP 936

23/06/2020 16h00

Foto: Yasuyoshi Chiba / AFP

A montadora de automóveis japonesa Nissan demitiu 398 trabalhadores de sua fábrica em Resende, no Sul fluminense, em decorrência dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.

A empresa reduziu sua produção para um turno - originalmente eram dois, o segundo tendo sido criado em 2017.

Segundo a empresa, após um mês de férias coletivas, os trabalhadores da fábrica estavam em suspensão temporária do contrato de trabalho há dois meses, conforme a MP 936. O prazo de suspensão terminou na última sexta-feira. A Nissan pagará a indenização prevista na MP.

Quando foi editada, em abril, a MP autorizava as empresas a negociarem diretamente com os trabalhadores acordos de suspensão dos contratos por até 60 dias e redução de jornada e salário, de até 90 dias.

No Congresso, houve uma mudança na redação, permitindo ao governo editar um decreto prorrogando a suspensão de contrato por mais 60 dias e a redução de jornada por 30 dias. Mas essas mudanças ainda dependem de sanção do presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com a Nissan, as demissões são imediatas e foram comunicadas aos sindicatos. O corte representa 15,9% do quadro de funcionários em Resende, que era de 2.500 empregados. A fábrica de Resende produz os modelos March, Versa e Kicks, que custam entre R$ 59 mil e R$ 109,8 mil.

A Nissan explicou que, no início do ano, esperava crescimento nas vendas, mas com a chegada na pandemia, precisou mudar o planejamento.

Uma fonte lembra que a previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é de queda de 40% nas vendas de automóveis no mercado brasileiro este ano - um recuo para os níveis de 2004. E, em 2021, o crescimento não deverá voltar aos níveis de 2019.

Em comunicado, a Nissan afirmou que "vem buscando adequar o seu negócio à nova situação do mercado automotivo no Brasil em decorrência dos reflexos da pandemia de Covid-19 e, em função da manutenção do cenário atual de forte retração, a empresa precisou adotar novas medidas para garantir a sustentabilidade da sua operação no país. (... ) Uma parte da equipe será alocada em outro turno, mas, infelizmente, não será possível integrar todos os postos de trabalho.”

Parte dos trabalhadores originalmente contratados para o segundo turno em 2017 (quando 600 pessoas foram adicionadas à força de trabalho) foi aproveitada para o turno único que passará a funcionar a partir desta quarta-feira (24).

A empresa não trabalha com a hipótese de mais demissões este ano. O ajuste se coaduna com o volume de produção esperado para este ano e o ano que vem, afirmou.

Sindicato: decisão unilateral

Segundo Silvio Campos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, a entidade vai denunciar o caso ao Ministério Público:

“Nós negociamos com todo mundo,  com Volkswagen, Peugeot etc., buscando saídas para mitigar esse momento difícil com a pandemia”, disse Campos. “Os cortes na Nissan surpreenderam o sindicato. E a coisa já começa errada com a Medida Provisória. Embora a MP 936 dê estabilidade, também permite a demissão do trabalhador se a empresa decidir pagar a multa, e isso é péssimo para os trabalhadores. A Nissan agiu de forma unilateral.”

Fonte: O Globo