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Artigo

Mulher, pandemia e o mercado de trabalho - pouco a comemorar

Mauricio Prieto

03/03/2021 07h09

Foto: Divulgação

Em maio de 2019, num artigo publicado no site da Synerhgon, informávamos que, de acordo com os resultados da pesquisa realizada pela consultoria McKinsey, as instituições que possuíam mulheres em altos cargos tinham 50% mais chance de aumentar os rendimentos e 22% de aumentar a média da margem Ebitda.

E que criar políticas de promoção e incentivo da liderança feminina em empresas pode ser um fator de influência direta nos resultados financeiros e perspectivas de crescimento, além de levar ainda mais diversidade para dentro de conselhos e manter os debates e ideias ricos, mantendo a companhia em crescente constante no aspecto econômico e social.

Hoje, o IPEA dá conta de que o percentual de pessoas empregadas caiu na comparação entre os terceiros trimestres de 2019 e 2020, ou seja, durante a pandemia. Mas não de forma igualitária entre mulheres e homens.

No caso delas, a queda foi de 7,5%, levando o percentual de mulheres empregadas de 53,3% para 45,8% - o menor número desde 1990. Já para os homens o tombo foi menor, passando de 71,8% para 65,7% (queda de 6,1%).

Os números acima indicam uma reversão no que já se considerava uma tendência consolidada: a crescente participação da mulher na composição da massa trabalhadora, num país em que as mulheres continuam sendo a maioria da população (51,2%).

O que teria interferido no ciclo virtuoso que até então se desenvolvia? A resposta está na composição de dois elementos deletérios.

O primeiro é o efeito da pandemia na empregabilidade em geral. O segundo é a já conhecida questão cultural e estrutural que ainda domina a sociedade e o mercado de trabalho, no que diz respeito à desigualdade de gêneros.

Em entrevista concedida à Infomoney, a fundadora da Rede Mulher Empreendedora, Ana Fontes, assevera que “temos uma construção social de que o homem é responsável pelo provento e a mulher pelo cuidado. Existe a ideia de que mulheres não vão conseguir focar no trabalho corporativo, porque não podem ser, ao mesmo tempo, boas executivas e boas mães. O que não é verdade, se a gente viver em uma sociedade com equilíbrio de gênero em oportunidades empresariais e em cuidados com a casa, os filhos e pais idosos”.

Ouvida pelo portal R7, Erika Linhares, especializada em comportamento e cultura dentro de organizações, diz que o principal fator para a mulher ter perdido espaço no mercado de trabalho durante a pandemia acontece devido ao acúmulo de funções.

“A mulher tem a responsabilidade da carreira de colocar dinheiro na casa e cuidar da família. Quando vem a pandemia e ela não tem possibilidade de deixar filho em creche, com ajudante ou pais, ela assume essa tarefa também. E ficou muito difícil na pandemia conciliar gestão da casa, assumir papel de cuidar das crianças em tempo integral e ainda continuar trabalhando”.

Ainda na matéria veiculada pela Infomoney, Marcos Hecksher, pesquisador do IPEA, lembra do efeito do auxílio emergencial.

“O benefício ajudou financeiramente muitas famílias e de certa forma incentivou milhares de pessoas a ficar em casa e não procurar emprego. No caso de mães chefes de família, o benefício foi em dobro. Por isso, com as parcelas do auxílio, algumas mulheres de baixa renda optaram por não trabalhar e não procurar trabalho, já que precisavam cuidar dos filhos e tinham como manter o orçamento. Nesse contexto, elas ficaram fora das estatísticas de emprego e participação”.

Lembremos da abertura deste artigo: instituições com mulheres em altos cargos têm mais chances de aumentar seus rendimentos e lucros.

Ora, como alcançar uma situação em que mulheres ocupem cargos de destaque na proporção em que compõem a sociedade se, de saída, elas ainda são objeto de desvalorização tanto pessoal como profissional?

Evidentemente, este cenário seria atenuado se houvesse uma efetiva divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres, finalmente equilibrando a imagem que as empresas têm de ambos.

Essa equação deverá ser resolvida não só pelo esforço das próprias mulheres, mas pela mobilização do conjunto da sociedade. Certamente resultará em pessoas melhores e melhores resultados para as empresas.

Mauricio Prieto é sócio diretor da Synerhgon, empresa de consultoria multidisciplinar com foco no resultado. [email protected]

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