27/06/2020 10h40
Foto: Marcelo Theobald - Agência O Globo
As taxas de juros do cheque especial e do rotativo no cartão de crédito registraram nova redução em maio, de acordo com estatísticas do Banco Central (BC) divulgadas nesta sexta-feira. As duas modalidades são as mais caras do mercado.
Em maio, a taxa do cheque especial atingiu 6,7% ao mês. Os juros nessa modalidade já estão em trajetória de queda desde março por conta de uma resolução do BC que impôs o limite de 8% ao mês.
Em fevereiro e março, a taxa ficou em 7,2%. Já em abril, o cheque especial registrou juros de 6,8%. A taxa anual está em 117,1 %, uma queda de 2,5 pontos percentuais em comparação com março, que registrou juros de 119,6%.
A taxa mensal dos juros do cartão de crédito na modalidade rotativa (quando o cliente não paga o valor integral da fatura até a data de vencimento) caiu 0,3 pontos percentuais em maio. Em abril, a taxa era de 12,6% e reduziu para 12,3% em maio.
É a segunda queda seguida neste ano. Em março, os juros estavam em 12,9%.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, de 3% para 2,25%. A Selic serve como um guia para as instituições financeiras estabelecerem as suas taxas de juros nos financiamentos. Uma taxa Selic mais baixa tende a baixar o custo de empréstimos.
O volume de concessão do cheque especial registrou queda de 10,9% em maio na comparação com o mês anterior. Desde o início da crise, as concessões têm reduzido. A média mensal era no patamar de R$ 30 bilhões. Depois de abril, as concessões não passaram de R$ 25 bilhões.
Já as concessões no rotativo se mantiveram no mesmo patamar e só registraram queda em maio, uma redução de 10,5%.
No geral, as concessões para pessoas físicas subiram 3,3% em maio ante abril, mas ainda está bem abaixo dos níveis pré-crise. Em janeiro, por exemplo, foram R$ 169 bilhões concedidos, contra R$ 125,7 bilhões no último mês.
Um dos pontos que mais contribuiu para a variação para cima no mês foi o aumento no uso do cartão de crédito à vista. Em maio, a subida foi de 10,5% ante abril. No entanto, na comparação com fevereiro, o nível ainda é bem menor. Foram R$ 67,5 bilhões em maio contra R$ 83,3 bilhões em fevereiro. Essa queda aponta para uma redução geral no consumo no período mais agudo da crise.
Segundo o economista sênior do banco BMG, Gilmar Lima, a queda nos gastos com cartão de crédito à vista é esperada considerando as necessidades de distanciamento social e mais pessoas ficando em suas casas. Lima aponta para uma melhora nessa estatística com a retomada da economia. “Pelo que a gente está vendo nos dados proprietários de empresas de cartão de crédito, vem uma retomada mais forte do que se esperava das compras com cartão de crédito”, enfatiza.
A inadimplência continua no mesmo patamar de antes da pandemia. Maio registrou 4%, o mesmo número de abril e apenas 0,2% acima do registrado no início do ano. Miguel Ribeiro, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), espera que o cenário piore nos próximos meses. Para ele, a queda na atividade econômica deve ter impacto grande na inadimplência.
— O relatório mostra estabilidade na inadimplência. Essa situação tem a ver que os bancos estão fazendo recomposição de dívidas, não que as empresas estão pagando. A inadimplência está maior, mas os bancos estão fazendo recomposição para evitar ter que contabilizar essas perdas.
Empresas
O Banco Central também mostrou que as concessões de crédito para empresas caíram 9,4% em maio na comparação com o mês anterior. Com essa queda, os números voltam ao patamar do início do ano, quando o país ainda não sentia o impacto da pandemia.
Essa nova redução também aponta para março como o pico das concessões. Naquele mês, foram emprestados R$ 216,3 bilhões. Já em maio, o número é bem menor, de R$ 130,1 bilhões.
As taxas de juros médias são as menores da série histórica, que começou em 2011. Para empresas, a taxa anual chegou a 14,2% em maio, ante 15,7% em abril e 17,6% em janeiro. Para pessoas físicas, a taxa foi de 26,2% no último mês.
Miguel Ribeiro disse que esperava a queda dos juros por conta da redução da taxa Selic, renegociação de dívidas pelos bancos e movimentos do Banco Central, como a liberação de compulsórios. No entanto, ele alerta que a tendência é que os juros subam no futuro.
— Em um quadro como esse de queda na atividade econômica, quebra de empresas, segunda onda de quarentena que deve vir pela frente, tudo isso deve fazer a inadimplência subir forte e com isso levar os bancos a subirem os juros.
A estatística leva em conta os recursos livres, que podem ser emprestados pelos bancos sem direcionamento de preço do governo.
A procura por capital de giro de curto prazo, com prazo de pagamento menor que um ano, caiu 40,3% em maio. Essa modalidade foi muito procurada em abril, que registrou o dobro de volume concedido na comparação com o mês anterior. Essa linha é mais procurada porque dá mais liberdade para o empresário usar os recursos como achar melhor.
Os três meses com impacto da crise — março, abril e maio —, registraram níveis bem superiores de concessão nessa linha. Em janeiro, o BC registravam apenas R$ 5,5 bilhões em concessão, contra R$ 23,5 bilhões em abril e R$ 14 bilhões em maio.
Com queda no faturamento por conta da pandemia, empresários tendem a buscar empréstimos para conseguir manter seus negócios durante esse período.
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, analisa que as empresas estão conseguindo acessar essa linha de crédito.
— O crescimento capital de giro atende às necessidades das empresas? Eu diria que atende, porque as empresas estão demandando esse capital de giro e o aumento nas concessões mês a mês, ainda que vários sejam menores que abril, mostram que eles estão acessando essa linha.
As taxas de juros para essa linha também tiveram queda em abril e maio, atingindo a mínima da série histórica. Em março, a taxa média era de 12,9% ao mês. Os dois meses posteriores registraram uma média de 8,6% e 8,7%, respectivamente.
Atuação dos bancos
Olhando o saldo de crédito por tipo de instituição financeira, fica clara uma mudança de atuação dos bancos públicos desde março, início da pandemia.
Considerando saldos acumulados em 12 meses, o estoque de crédito dos bancos públicos cresce pelo terceiro mês seguido, mostrando variação positiva de 2,5% em maio. Não parece muita coisa, mas a carteira dos bancos públicos não tinha crescimento mês a mês desde o fim de 2016.
Tal comportamento evidencia a mudança de orientação devido à pandemia, já que desde o fim do governo Dilma Rousseff, a ordem foi tirar os bancos públicos de cena dentro de um contexto de ajuste fiscal.
Tirando o BNDES da conta, a expansão dos demais bancos públicos é ainda mais expressiva, com os saldos crescendo 6,6% nos 12 meses até maio. O BNDES, por sua vez, segue com retração da carteira em 12 meses, de 9,2%, mas ela é menor que a verificada nos últimos meses.
Em termos de participação total de mercado, os bancos privados seguem respondendo por 53% do crédito no país, e estão mantendo um ritmo de crescimento de suas carteiras entre 16% a 17%, sempre considerando os saldos em 12 meses.
Fonte: O Globo