24/07/2020 10h47
Foto: Divulgação
Desde 2011 que o mês de julho é marcado pela campanha ‘Julho sem plástico’, que repercute na internet através da hashtag #JulhoSemPlástico. O movimento, que começou com uma proposta do Earth Carers Waste Education, popularizou-se pelo mundo e, em 2020, ganha uma nova preocupação: a pandemia do novo coronavírus.
Com a pandemia, imagens de praias repletas de máscaras descartáveis se tornaram cada vez mais comuns nas redes sociais, como mostra o Instagram da Opération Mer Propre, organização francesa de limpeza de praias. Além disso, alguns relatos, também nas redes sociais, constam que o lixo plástico no mundo aumentou consideravelmente após o início da pandemia.
Com isso, 2020 trouxe um novo desafio para o ‘Julho sem plástico’, sobre alertar para o consumo consciente de plástico e continuar se mantendo protegido do vírus da Covid-19.
A empresa baiana Saravá Sustentável (@saravasustentavel) está participando da campanha pela primeira vez em 2020. A proprietária da marca, a engenheira ambiental Laís Lage, explica que a ideia do projeto é conscientizar a população sobre medidas simples que podem ajudar o planeta, principalmente em tempos de pandemia e maior consumo.
“Estamos em redes sociais, como Instagram e Facebook, compartilhando diariamente postagens e dicas de como fazer a separação do lixo doméstico, onde dispor da forma correta e mais importante do que colocar o lixo no local certo e evitar a geração desse lixo no momento do consumo”, comenta Laís.
A engenheira ambiental também explica que são pequenas atitudes que podem ajudar a tornar o mundo mais saudável. “Um grande exemplo que damos são as compras a granel, incentivamos os seguidores a levar seu próprio potinho para uma loja a granel e comprar os alimentos sem embalagens plásticas”.
Para a bióloga Bruna Leite, campanhas como a do 'Julho sem plástico' são necessárias para dar mais visibilidade à causa de proteção do meio ambiente.
“Precisamos enxergar que nossas atitudes estão causando impactos cada vez mais negativos. Porém, acredito que essas atitudes precisam ser, também, cada vez mais incisivas e inclusivas, para que alcance um número maior e mais diversificado de pessoas”, adverte a bióloga.
Bruna também acredita que é preciso existir uma união do poder público com o setor privado para ajudar a impulsionar campanhas deste tipo.
Ainda é pouco
Apesar de pequenas atitudes poderem gerar impacto na sociedade, Bruna enfatiza que focar apenas nestes pontos é algo pequeno. Contudo, a bióloga admite que pode ser um bom ponto de partida para começar a repensar atitudes.
“Para que os impactos que a produção e o consumo de plástico sejam realmente reduzidos, as medidas a serem tomadas precisam ser em escalas muito maiores, e aí que entra o papel da gestão pública”.
Bruna cita um estudo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) de 2019, que lista o Brasil como 4º maior produtor de plástico no mundo e como um dos países que menos reciclam.
“Basicamente, nossos resíduos são descartados de forma arcaica em lixões a céu aberto e existe pouco, ou quase nenhum, incentivo para a reciclagem”, diz.
Para a bióloga, também é importante pensar em medidas de inclusão nas campanhas de conscientização contra poluição e, assim, conseguir chegar até a população mais carente.
“Muito importante também são medidas cada vez mais incisivas de conscientização da população e mais inclusivas, afinal, o copo de silicone é realmente uma medida legal, mas será que é todo mundo que pode comprar?”, questiona a bióloga sobre a acessibilidade dos produtos considerados menos poluentes.
“Nós precisamos agir de uma forma que crie nas pessoas essa necessidade de cuidar do meio ambiente, mas, infelizmente, nossas desigualdades sociais são tão marcantes que esse não é o foco principal de muita gente. Isso não é culpa dessas pessoas”, completa.
Redes sociais
Desde 2011, a campanha 'Julho sem plástico' é difundida das redes sociais, sendo seu meio mais forte de conscientização.
Segundo Laís Lage, da Saravá Sustentável, as redes sociais conseguem atingir uma grande quantidade de pessoas sem precisar de muitos gastos, e com retorno rápido para o projeto.
“Já temos relatos de pessoas que começaram a separar o lixo e reutilizar potes de vidros para as compras, a partir das nossas postagens. Geralmente, os seguidores compartilham as informações que publicamos e essa rede só se fortalece. Esse é o nosso principal objetivo, mostrar às pessoas que existem outros caminhos para viver em equilíbrio com o meio ambiente”, relata Laís.
Laís também considera a campanha fundamental para fazer as pessoas despertarem para a causa, principalmente em meio à pandemia e às mudanças climáticas.
“Levar a sociedade para refletir quais impactos estamos causando à natureza e o que podemos mudar é urgente, é um ato cidadão e é lei se responsabilizar pelo próprio resíduo gerado”, finaliza a engenheira ambiental, citando a Lei nº 12.305/10, também conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
O que fazer?
Mesmo com o mundo precisando de grandes mudanças, pequenas atitudes também podem fazer diferença. A engenheira Laís Lage listou algumas dicas para aplicar no dia-a-dia e diminuir, individualmente, o consumo de plástico.
1. Deixar um copo no trabalho já evita o uso de, pelo menos, 5 copos descartáveis por dia. São 1.800 copos descartáveis a menos a cada ano;
2. Parar de consumir descartáveis na rua e andar com o seu próprio Kit Lixo Zero (talheres, canudo, guardanapo de tecido e copo reutilizável) na mochila já evita bastante a geração de lixo diariamente;
3. Andar com ecobags na mochila ou no carro vai te economizar o consumo de sacolas plásticas sempre que fizer uma compra;
4. Trocar a escova de plástico por uma escova de bambu faz muita diferença. Uma pessoa usa 4 escovas por ano, são 40 escovas a cada 10 anos. Imagina quantas escovas vão parar no mar e quantas se acumulam nos aterros, só em Salvador, com milhares de habitantes. Agora imagina no mundo! No final do uso, você ainda pode enterrar a escova de bambu e ele volta para a terra, sem causar nenhum impacto.
5. Trocar a bucha sintética pela bucha vegetal. A bucha sintética contém plástico, retém restos de alimento e dificilmente é reciclada. A bucha vegetal é natural, não arranha as panelas e pode ser usada também para o banho. Também é compostável, pode ser enterrada ao fim do uso.
6. Substituir os absorventes descartáveis ou OBs por absorventes de pano, calcinhas absorventes e coletor menstrual. Esses produtos são reutilizáveis e duram anos, não deixam odor e nem causam alergias como os descartáveis. Uma pessoa usa cerca de 10 mil absorventes durante a vida menstrual, são quase 150 kg de absorventes enviados para os aterros. Esse material não pode ser reciclado, leva em média 500 anos para se decompor e, muitas vezes, vai parar no mar.
7. Compras a granel levando o próprio recipiente. Evita o consumo de embalagens plásticas e os alimentos já ficam armazenados.
8. Consumir cosméticos naturais com embalagens reutilizáveis, compostáveis ou retornáveis. Além de ocupar menos espaço na sua casa, esses produtos não têm substâncias químicas nocivas ao corpo e ao ambiente.
9. Compostar os resíduos orgânicos, como cascas de frutas e verduras. Os resíduos orgânicos correspondem a mais de 50% dos resíduos domésticos. Ao compostar esse tipo de resíduo, conseguimos reduzir à metade a quantidade de lixo que geramos em casa.
10. Dar preferência a consumir produtos com embalagens de papel ou embalagem de vidro, sempre evitando as embalagens plásticas, que dificilmente são recicladas.
11. Andar com a sua garrafinha de água para não comprar água envasada em garrafas plásticas. Menos plástico, menos poluição.
Fonte: Jornal A Tarde