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Transporte Aéreo

Gol apresenta plano para encarar até 90 dias de crise do Covid-19

No escritório em Congonhas estão 50 funcionários e cerca de 900 trabalham remotamente

26/03/2020 13h26

Foto:Divulgação

Corte de custos, para de 90% das aeronaves, gestão de caixa com fornecedores até a organização do fluxo de manutenção das aeronaves para a retomada, estão no plano da Gol para encarar até 90 dias de crise do coronavírus, que afeta gravemente as empresas aéreas.

A Gol já registrou 750 voos diários, sendo a companhia com maior movimentação, ante menos de 80 decolagens da Azul e menos de 50 da Latam. Apesar do cenário dramático, o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da empresa, Richard Lark, disse que “companhias aéreas são diferentes de todas as demais. Estão sempre prontas para crise.”

Lark contou que a companhia está pronta para uma parada operacional completa de até 90 dias. Mas, “ficamos prontos para o pior. É nossa obrigação.”, destacou. No escritório em Congonhas, onde normalmente trabalham cerca de 1.000 funcionários, estavam 50 – apenas aqueles que tinham de estar ali. O restante já trabalhava remotamente.

A segunda-feira, 23, marcou o dia com menor movimento desde o início da crise. Mas a redução será ainda maior. A partir deste sábado, serão apenas 50 decolagens, concentradas no aeroporto de Guarulhos. Mesmo assim, a empresa vai manter os voos para todas as capitais do país. A expectativa é que esse cenário dure até o começo de maio. Caso haja demanda e a circulação de pessoas aumente, a empresa pode retomar os voos regionais. “Estaremos atentos às necessidades da população e às orientações das autoridades”, disse Lark.

Antes da crise, havia 400 aeronaves comerciais rodando sobre o Brasil, apenas para os voos domésticos, e a expectativa é que esse total seja reduzido a 40, diante do atual fluxo de viagens.

Na segunda semana de março, o faturamento da Gol já havia recuado à metade, comparado a igual período de 2019. Na semana passada e nessa, a receita deve ficar em 30% do que era e a expectativa é que, nas próximas, caia para 10%. O cenário preocupa analistas e investidores. Para especialistas, se a situação for duradoura e avançar para o terceiro trimestre, o setor estará ameaçado.

No primeiro corte, no começo do mês, a Gol reduziu em 90% a operação internacional e em 50%, a nacional. No fim desta semana, haverá redução de 92% da atividade doméstica, com a internacional totalmente paralisada. O quadro é o mesmo nas concorrentes.

As companhias aéreas estão em conversas com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para buscar a forma mais eficiente de operar. O diálogo é permanente no atual momento.

Em 2019, a Gol superou a previsão de receita líquida dada para o ano. Esperava R$ 13,5 bilhões e conseguiu registrar R$ 13,8 bilhões, um aumento de 21,5%. “Em fevereiro, a gente estava começando a cotar a contratação de cinco novos aluguéis de aeronaves para as férias de julho”, diz Lark. Mas, em três semanas, o mundo mudou.

Desde 31 de janeiro, as ações da Gol caíram quase 79%, levando o valor de mercado da companhia para menos de 2 bilhões de reais. Mesmo preocupado com a duração da situação, Lark tenta demonstrar que o trabalho a ser feito, neste momento, está pronto. “Agora, estamos só esperando o tsunami”, afirmou, sobre os reflexos do período de confinamento quase global.

Caixa rei

As iniciativas de preservação de caixa estão em andamento. Dos custos totais, 60% são variáveis. Logo, sem operação, sem custo. Dos 40% restantes, a companhia conseguiu reduzir pela metade pelos próximos três meses, com anúncio de redução dos salários dos funcionários em 35% e da diretoria, em 40%. “Foi tudo muito rápido e pragmático. Levamos o pleito para o governo para poder diminuir pagamento e jornada, o que foi permitido para diversos setores.”

No front financeiro e de fornecedores, a Gol já escalonou com a Petrobras o desembolso para combustíveis. “Casamos recebimentos e pagamentos”, explicou Lark. Além disso, também iniciou as conversas para adiar os depósitos de leasings de aeronaves em três meses.

Por fim, nas próximas semanas, haveria parte das amortizações de 500 milhões de reais em debêntures, detidas por Banco do Brasil e Bradesco, mas a empresa já deu a largada em uma repactuação. São 150 milhões de reais previstos semestralmente, até março de 2022. “Compramos tranquilidade até junho”, disse o executivo.

O balanço de 2019 apontava uma posição de caixa de 2,8 bilhões de reais ao fim de dezembro, para 8,5 bilhões de reais em empréstimos e financeiros e 6 bilhões de reais em compromissos com arrendamentos de aeronaves, os leasings. O tamanho da dívida da Gol é o que mais preocupa investidores, especialmente porque a maior parte é em dólar.

Em agosto, a Gol tem um vencimento importante de 300 milhões de dólares. Trata-se de uma operação garantida pela Delta Airlines, acionista minoritária (que já anunciou intenção de sair do capital da área brasileira). De um lado, a Delta é quem garante com os bancos os recursos. Do outro, a Gol ofereceu ações da Smiles como contrapartida. Lark disse que a companhia já estava preparada para esse pagamento e, neste momento, afirmou que não faz sentido iniciar um diálogo sobre renegociação. “É preciso esperar para ver o cenário.”

Mas, para além dessa operação, os vencimentos estão bem mais à frente: 425 milhões de dólares em bônus conversíveis em 2024 e mais outros bônus de 650 milhões de dólares com vencimento em 2025.

Frota flexível

A aérea brasileira dispõe atualmente de 137 aeronaves. Mas, desse total, 31 são aluguéis temporários – sendo 11 de curto prazo – para cobrir os modelos Max adquiridos da Boeing e que não foram entregues devido ao atraso na produção, após acidentes com empresas da Malásia e da Etiópia que apontaram falhas de sistemas. “Deveríamos, a esta altura, ter 37 Max. Só que temos sete, parados desde o ano passado.”

Esses aluguéis prorrogados vencem entre dois e 24 meses. “Conforme a situação se colocar, basta deixarmos os contratos vencerem. Conseguimos reduzir 25% da frota sem esforço, para um total de 100 aviões. Quer dizer, a nova realidade já está contratada pela Gol.”

Com parada forçada, a companhia deu foco à manutenção. O pátio para revisão está cheio, dando descanso à frota que vinha de um uso intenso devido aos atrasos da Boeing.

“O modelo de negócios da Gol é mais flexível, simples. Temos um tipo de piloto, um tipo de manutenção, um tipo de aeronave, que voa muitas horas. Quando precisa reduzir, é mais rápido”, tentou resumir Lark.

Fonte: Informações da Exame