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Artigo

Exploração sexual de meninas no cenário do transporte de carga

Marlene Vaz

05/03/2020 09h58

Foto: Divulgação

A exploração sexual comercial de meninas acontece quando os exploradores (agenciadores e intermediários) vendem o corpo de crianças e adolescentes, com ou sem o consentimento delas, para auferirem lucros no mercado do sexo, ou quando exploradores (clientes) pagam por esse corpo para auferir prazer sexual.

A causa principal das meninas estarem nas rodovias e nos postos de combustível é a pobreza, de acordo as pesquisas que fiz desde 1974. A chave para entender os verdadeiros significados por trás das ações dos caminhoneiros consiste em entender qual a estrutura do comportamento do grupo social caminhoneiros. Quais são os códigos que fazem os caminhoneiros serem caminhoneiros?

São apontados como réus porque fazem sexo com meninas, fazem promessas de casamento, mas já são casados, vestem-se mal, são grosseiros e não têm educação. A sociedade constrói estereótipos dessa categoria profissional, carregando nos matizes da desqualificação, embaralhando preconceitos e ambiguidades.

Esses profissionais interiorizam a avaliação que a sociedade pensa deles e comportam-se fazendo por merecer a expectativa, condenados ao desterro social, sem chance de integração a outros grupos. Por sua vez, eles dizem que as meninas ficam nas estradas e nos postos de combustível se oferecendo, e 60% aponta que uma “menina direita” só começa a fazer sexo aos 18 anos.

Os caminhoneiros não recebem informação adequada para saber que mesmo que uma menina ofereça seu corpo por dinheiro ou por comida, cabe ao caminhoneiro dizer não, porque o adulto é que tem que saber qual o limite entre seu corpo e o corpo de uma pessoa menor de idade.

Quando indagados sobre as dificuldades que os atormentam na profissão, responderam: a situação da depreciação física das estradas; insegurança de vida pelos assaltos e por isso ter que dormir nos postos de combustível onde encontram as meninas; acúmulo de dias dirigindo sozinhos; muitos dias de atraso esperando a liberação de documentos nos postos de fiscalização; ganham pouco pelo muito que trabalham; distância e dificuldade de se comunicar com a família. Alegam que os postos de combustível não oferecem condições de se alojarem, reclamaram muito dos sanitários e banheiros sujos, estes “com água empossada até o joelho”.   

Concluindo, os caminhoneiros desconhecem os direitos sexuais das meninas e sofrem com a ausência de seus direitos respeitados. Não aceito a exploração sexual das meninas nas estradas, mas agora sou capaz de compreender a vida difícil dos caminhoneiros.

Proponho que as Empresas de Transporte da Bahia reúnam-se para planejar um programa de INFORMAÇÕES aos CAMINHONEROS de como PROTEGER as MENINAS nas ESTRADAS.

Marlene Vaz - socióloga especialista sobre violência sexual contra meninas.