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Sustentabilidade

Expedição do Projeto Baleia Jubarte vai monitorar os animais

Pesquisadores e tripulantes dormem no barco, onde devem passar cerca de 30 dias no trajeto até chegar em Vitória

03/09/2020 15h45

Foto: Projeto Baleia Jubarte

Serão mais de mil milhas náuticas a bordo do catamarã Skipper, uma jornada que deve durar cerca de 30 dias, na qual os pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte percorrem o mar que separa Praia do Forte, no Litoral Norte da Bahia, de Vitória, capital do Espírito Santo. O objetivo da empreitada é monitorar as baleias, inclusive, os possíveis impactos da pandemia do coronavírus na população da espécie.

A expedição partiu de Salvador rumo a Vitória no dia 27 de agosto, depois de fazer alguns cruzeiros entre a capital e Praia do Forte entre dos dias 15 e 20 do último mês. “Tivemos que atrasar um pouco a saída de Salvador porque o tempo ficou ruim”, disse o coordenador de Comunicação do Projeto Baleia Jubarte e chefe da Expedição Entre Baleias e Golfinhos 2020, Enrico Marcovaldi.

Em 5 dias de cruzeiro de pesquisa, a equipe do projeto passou por Salvador, Morro de São Paulo, Garapuá, Barra Grande até chegar em Itacaré, onde atracou no porto já que o mau tempo impediu a baleiada, como é chamada a observação das baleias. Com muitas milhas pela frente, os pesquisadores ainda vão parar em Ilhéus, Cumurixatiba, Abrolhos, Caravelas e Vitória. O retorno para Salvador deve ser mais rápido, de até 5 dias, se o tempo deixar.

A embarcação só deve zarpar de Itacaré na sexta-feira (4) pois os membros do projeto vão participar, na nesta quinta-feira (3), da inauguração da Ilha Interpretativa da Baleia Jubarte, localizada nas dependências do Eco Beach Club, na Praia da Concha.

Nem sempre o mar acolhe os navegantes com tranquilidade. Logo nos primeiros dias de viagem, a equipe seguiu em direção a Morro de São Paulo em meio a fortes ventos e um mar mexido reflexo da frente fria que atravessou o Brasil no final de agosto.

“O barco é muito seguro e a gente tem uma tripulação muito experiente. Estamos acostumados a ficar um certo tempo no mar, cinco dias é pouco”, disse Enrico. “A gente está em uma embarcação top, um barco muito bom. Não temos problemas com o mar”, completou o capitão do Skipper, André Correia.

Ancorado em Itacaré, onde chegou na segunda (31), Enrico Marcovaldi conta que já são muitos anos de cruzeiros de pesquisa, mas a emoção de avistar os mamíferos aquáticos é sempre a mesma: “tem um ditado que é quem vê uma baleia não esquece nunca mais. A 1ª vez é inesquecível e todas as outras vezes parecem que são a primeira. É uma beleza ver um animal com 40 toneladas saltando, é uma maravilha escutar o canto das baleias”.

Mesmo quem já está acostumado a observar as baleias se encanta com o show dos mamíferos. O Capitão da embarcação está na sua primeira grande expedição e está encantado com os animais observados. “Eu vi baleia durante a minha vida toda, mas ver com o pessoal do projeto é diferente porque dá para entender tudo que está acontecendo em cada movimento e salto das baleias”, contou.

Rotina
A vida dentro da embarcação não é muito diferente da em terra firme. Os tripulantes e pesquisadores acordam, trabalham e dormem como sempre fazem, a única mudança é que a casa é em alto mar. “É como uma casa de praia flutuante”, relatou o capitão do catamarã. O barco possui quatro quartos, sala, cozinha e “é muito confortável” garantiu Enrico Marcovaldi.  

“A gente acorda e sai cedo pro mar para a observação das baleias, entre 7h e 8h. Voltamos para o porto por volta das 17h. Mas tudo isso depende do tempo, não somos nós que mandamos”, afirmou Enrico. A equipe ainda planeja passar dois dias em alto mar no trecho entre Ilhéus e Porto Seguro.

Na rotina do grupo, foram incluídas as precauções para evitar contágio pelo coronavírus. Além da redução da equipe - apenas três pesquisadores fixos estão realizando a viagem, todos seguem os protocolos de segurança. “Nossa equipe geralmente é de 6 a 7 pessoas em expedições do tipo. Apenas um pesquisador local pode subir no barco conosco. Estamos nos cuidando muito aqui, com uso de álcool em gel e evitando descer na terra, por exemplo”, afirmou Enrico.

Os pesquisadores levaram a Jubarte Voadora, uma pipa em formato de baleia, para o cruzeiro científico. Depois de um primeiro dia com a avistagem de muitos animais, a equipe comemorou com um voo da pipa em Salvador, na Enseada da Ribeira. A pipa ainda rendeu um belo clique ao voar em frente a um arco-íris no fim de tarde de Barra Grande, no último domingo (30).

Com a viagem, o projeto vai monitorar toda a área acompanhada de uma vez. Em poucos dias, o barco chega a região de abrolhos, que tem a maior concentração de Baleias Jubarte. Nestes dias de expedição, os pesquisadores já perceberam uma redução nas atividades do mar, como o tráfego de navios, e também uma grande quantidade de filhotes. Entretanto, ainda não é possível medir os impactos da pandemia na espécie.

“Essa temporada tem como característica muitos filhotes. A gente também está vendo menos navios cargueiros e redes de pesca devido à pandemia, mas não tem como dizer que isso vai influenciar o comportamento dos animais. Isso só poderá ser avaliado no final da temporada. As temporadas são cíclicas e em 2017 tivemos uma parecida com o que estamos vivendo, então, fica difícil dizer o que é causado pela pandemia”, explicou Enrico, que, dentre tudo que já ocorreu durante a viagem, a quantidade de filhotes observados foi o que mais o impressionou.

Entre Salvador e Itacaré, foram avistadas 72 baleias, sendo 18 filhotes. Outros 60 animais da espécie, dentre eles, 16 filhotes, foram observados nos 4 primeiros cruzeiros realizados entre a capital baiana e Praia do Forte. A população brasileira de baleias-jubarte é estimada em cerca de 20 mil animais, que frequentam a costa brasileira do Sudeste e Nordeste entre junho e novembro para acasalar, parir e amamentar os filhotes.

Dentre as atividades de pesquisa, são realizadas contagens dos animais avistados, foto-identificação de indivíduos, fotogrametria e registro visual para avaliação de condições de saúde, biópsias de pele e gordura para estudos genéticos e de contaminação por poluentes, e monitoramento acústico do ambiente marinho e do canto das baleias com hidrofones.

Além de estudar as baleias, os pesquisadores também buscam entender os impactos da pandemia para quem é parceiro do projeto, como os operadores do turismo de observação de baleias, e os protocolos montados para a eventual retomada segura das atividades de observação de baleias. 

Na região, o Parque Nacional de Abrolhos, localizado em Caravelas, reabriu nesta terça (1º). A unidade de conservação (UC) federal estava fechada desde 17 de março por determinação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por conta da pandemia do novo coronavírus. 

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o público poderá usufruir da visitação comercial embarcada - que inclui a observação de fauna como baleias jubarte, flora e trilha monitorada em ilha - e todos os pontos de mergulho livre e autônomo. Porém, ainda permanecerá fechado ao público o Centro de Visitantes do Parque e a possibilidade de visitas por embarcações particulares. O desembarque nas ilhas será permitido apenas aos visitantes que estiverem em passeios com pernoites.

Ao fim da expedição, o Projeto Baleia Jubarte vai lançar um documentário sobre os dias no mar. A ideia é mostrar como o animal está se comportando na pandemia e como todos os parceiros do projeto estão lidando com a situação.

“Vamos mostrar como foi a expedição. O documentário é mais ou menos como estão as baleias e as pessoas do mar. Entrevistamos muitas pessoas, como pescadores, agentes de turismo, biólogos. Esperamos sair algo bem bonito”, disse Enrico.

Fonte: Jornal CORREIO