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Artigo

ESG, ou como se dar bem fazendo o bem

Mauricio Prieto

16/04/2021 06h05

Foto: Divulgação

Empresa ESG (sigla para Enviromental, Social and Governance; em português, ASG - Ambiental, Social e Governança) é aquela que incorpora fatores ambientais, sociais e de governança como critérios de conduta e de avaliação de resultados, indo além das tradicionais métricas econômico-financeiras. A adoção desses critérios é o que indica que uma empresa é sustentável, do ponto de vista daqueles fatores.

Fatores ambientais são comumente associados à gestão de resíduos, de efluentes, de emissões de gases do efeito estufa, do uso racional e eficiente de recursos naturais e da energia.

Já os fatores sociais se relacionam a políticas de inclusão e diversidade, direitos humanos, proteção e privacidade de dados, seja interna ou externamente à organização, além do trato com colaboradores e com a comunidade.

Fatores de governança são representados por independência e diversidade da composição do conselho de administração, existência e funcionamento regular de comitês de auditoria contábil e fiscal, condutas éticas e transparentes.

As sociedades (e os mercados) cada vez mais estão caminhando na direção de tratar esses fatores como ideais e assim também, por extensão, as políticas públicas e regulatórias. Vale a pena não só se antecipar às exigências que fatalmente o poder púbico virá a determinar, como também aproveitar a tendência para se qualificar como parceiro preferencial, seja no âmbito da operação ou como destino de investimentos.

Alguns negócios iniciam essa jornada pela governança, outros por ações nos níveis ambiental ou social. E as empresas podem estar nos mais diversos patamares de sustentabilidade, dependendo do peso e composição de cada um dos fatores determinantes.

Uma coisa é certa: não há estado da arte nessa área. Sempre se poderá melhorar em cada um dos aspectos relevantes. Até por que tanto a sociedade, o mercado como as questões regulatórias tendem a evoluir em suas exigências.

É evidente que tudo isso tem um custo e que é objetivo das empresas auferir lucro. Ocorre que essa maneira de operar não mais será uma opção. Mesmo que sua adoção não aconteça exatamente por motivos nobres, o será porque a tendência parece ser irreversível.

Tanto é assim que a avaliação dos aspectos ESG de uma companhia deixou de ser assunto exclusivo dos especialistas em sustentabilidade.

Investidores observam com mais atenção as ESG, especialmente após 2010, quando da explosão da plataforma de extração de petróleo da British Petroleum (BP) no Golfo do México, que provocou o maior vazamento de óleo da história.

Assim também localmente, quando a mineradora Samarco teve, em 2015, uma barragem em Mariana (MG) rompida, protagonizando o maior desastre ambiental da história do Brasil.  Provocou danos irreparáveis à fauna e flora tanto do estado de Minas Gerais como do Espírito Santo, mas não só o aspecto ambiental foi ferido. Também o social: a tragédia causou mortes e deixou centenas de desabrigados. Recentemente, a Samarco requereu e teve homologada sua recuperação judicial.

Há também exemplos na esfera da governança corporativa.

Investidores atentos evitaram incluir ações da Volkswagen em seu portfólio, inferindo que a empresa, ao não dar assento apenas a membros independentes em seu conselho (um desafio temerário às boas práticas de governança), poderia facilitar desconformidades éticas.

Pois bem, em 2015 foi revelado o caso que ficou conhecido como “Dieselgate”, quando a empresa promoveu a falsificação de relatórios de testes de emissão de poluentes atmosféricos feitos em seus veículos.

A fraude já custou à Volkswagen cerca de 30 bilhões de euros em multas, compensações e custos legais e suas ações até recentemente acusavam preços muito inferiores aos anteriores ao ocorrido, impingindo a investidores menos cautelosos significativas perdas.

Fundos de investimento compõem carteiras com empresas ESG (são chamados de fundos responsáveis) e estas, para manterem e significarem tal atribuição, passam a escolher como parceiros fornecedores que também tenham compromisso semelhante.

O instrumento para que o mercado avalie a aderência de uma empresa às premissas ESG é o Balanço Social, um relatório anual onde a organização declina o volume financeiro das suas ações sociais e ambientais e representatividade em relação tanto à receita quanto ao resultado operacional. Também ali são registradas as providências para aprimoramento da governança que desenvolveu durante o período e as que pretende implementar no próximo.

Do mesmo modo, as bolsas de valores monitoram, via índices, o desempenho dessas empresas.

Exemplo local é o índice ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da B3. De 2005, quando foi criado, até novembro de 2020, o ISE B3 teve rentabilidade de 294,73% contra 245,06% do Ibovespa. Teve também menor volatilidade: 25,62% (o Ibovespa teve 28,10%).

Vale advertir: as organizações devem evitar, de toda a forma, serem identificadas como praticantes de greenwashing. O conceito, que em português significa “lavagem verde”, tem origem na sustentabilidade ambiental, mas pode ser estendido para os âmbitos social e de governança.

Trata-se da prática de promover declarações, campanhas ou ações de marketing que projetem a imagem da empresa dando a entender ser um negócio sustentável quando, na verdade, não o é. Não é difícil entender o porquê dessa advertência, tendo em vista a cultura de “cancelamento” tão em voga nos dias atuais.

Como se vê, a filosofia ESG não só veio para ficar como deve balizar a conduta das grandes empresas, daquelas que pretendem ser grandes e das que com elas se relacionam.

Mauricio Prieto é sócio diretor da Synerhgon, empresa de consultoria multidisciplinar com foco no resultado. [email protected]

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos seus autores. Não representa a opinião do MODAIS EM FOCO