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Artigo

Entregas grátis geram prejuízo para as empresas de e-commerce?

Sergio Maia

27/08/2021 06h04

Foto: Ilustrativa

O transporte representa um dos maiores custos logísticos de uma empresa e é apontado pelos gestores como um verdadeiro desafio. É, no mínimo, intrigante a quantidade de empresas de comércio eletrônico que oferece a modalidade de entrega gratuita. Será que esta oferta é vantajosa mesmo para as empresas?

O frete grátis é uma estratégia interessante para reduzir a taxa de abandono de carrinho (aumento da taxa de conversão), aumentar as vendas, melhorar a competitividade, aumenta o tráfego no site e elevar o ticket médio. Para utilizar esta estratégia é importante fazer um planejamento, definir critérios e testar custos para saber se a compra é vantajosa, até porque o frete gratuito não é um padrão de vendas pela internet.

É verdade também que o custo do frete, que geralmente fica em torno de 10% a 12% pode estar embutido no preço do artigo, mas o consumidor compraria um item mais caro? Ainda mais neste momento de Covid-19, em que a maioria das pessoas ainda sofrem com desemprego, redução da renda, salários atrasados e muitas dívidas...

A expressão frete grátis pode ativar um gatilho mental para vender, só que esta estratégia é interessante se os custos de transportes estiverem em equilíbrio, pois, para diluir os custos das entregas, é importante que os veículos saiam com a sua ocupação máxima e coletem produtos de todos os canais de vendas (centros de distribuição, lojas físicas, “dark stories” etc.). Além disso, devem estar bem roteirizados, de preferência com ajuda de ferramentas digitais que automatizam esse controle, inclusive dinamicamente, pois as condições de trânsito e ocorrências mudam, geralmente, várias vezes durante um dia.

O crescimento do e-commerce é inegável; este segmento não irá voltar ao tamanho anterior da pandemia, mas não podemos esquecer que esse crescimento foi impactado, também, pelo efeito manada, pois muitas lojas, redes de varejo e outros segmentos tiveram que entrar com vendas “online” para não encerrarem suas atividades; assim, devido ao fechamento físico do comércio, muitas empresas, principalmente as de pequeno porte, entraram no mundo virtual sem muito planejamento e sem estrutura para o ambiente digital.

Para as empresas de menor porte, uma sugestão é pensar no frete grátis somente em datas comemorativas, ou em dias da semana, ou períodos do mês que as vendas sejam mais elevadas, para ir testando se o frete grátis alavanca realmente as vendas, desde que análise dos custos de transportes tenha sido feitas. Outra sugestão é dividir o frete com seu cliente, ou só oferecer frete grátis em alguns produtos mais lucrativos, ou regiões que possuem mais demanda (gera maior ocupação cargas nos veículos), ou a partir de um valor específico de compra, após avaliar qual o valor mínimo de compra que justifica o frete grátis.

Para reduzir ou dispensar o frete é necessário conhecimento detalhado dos custos com transportes, fazer boas negociações com transportadoras e conhecer a capacidade financeira da empresa, para que a organização não dê “um passo maior que a perna”, evitando assim ter prejuízo.

As grandes empresas do e-commerce possuem grandes volumes e vários canais de vendas; em geral, têm um bom planejamento de cada etapa e contratos vantajosos com transportadoras, o que permite a oferta de frete gratuito em suas vendas sem abalar a lucratividade. Entretanto, essa não é a realidade das empresas menores.

Outra prática das grandes empresas de e-commerce são as parcerias com concorrentes para montar uma estrutura de transportes conjunta, de forma a elevar a ocupação dos veículos de cargas e diluir custos, sem ter prejuízos na conta fretes. Esta estratégia pode, inclusive, inspirar pequenos empreendedores, também, para formar coletivos de entregas rápidas (delivery colaborativo).

Na internet há vários estudos e planilhas grátis de formação de custos de transporte, que podem ser analisados, como por exemplo as do site: www.fretecomlucro.com.br, www.portalntc.org.br, www.smartplanilhas.com.br, dentre outros sítios. Essas planilhas permitem simular o detalhamento de todos os custos e resultados desejados: distância percorrida, pedágios, refeições, motorista, combustível, pneus, manutenção, tributos, aluguel, pagamento por entrega, seguros e lucro pretendido.

Concluindo, afirmo que “não tem almoço grátis”, como diz o adágio popular. Por isso recomendo a análise detalhada dos custos com transporte e suas estratégias, antes de implantar e oferecer a modalidade de frete grátis aos clientes do seu negócio. Isso evita que sua empresa venha a amargar as consequências de resultados negativos ou perda de fatia de mercado - seja pela necessidade de majoração do preço final do produto, pela ausência de lucro nas vendas ou, no pior caso, registro de prejuízo.

Sérgio Maia -  Consultor e profissional de Logística há 22 anos.

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