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Artigo

Difícil de superar a concorrência

Adary Oliviera

23/08/2023 06h04

Foto: Divulgação 

No mundo dos negócios se uma empresa não consegue superar os confrontos estabelecidos pelos concorrentes, sua paralização pode ser uma questão de tempo. Já assisti a muitos insucessos devido a ação predadora de competidores levando um excelente empreendimento a cair e ser sepultado sem piedade. Não sai da memória os tempos em que Portugal era o maior fornecedor de cortiça do mundo. O material era usado como isolante térmico o que obrigava as geladeiras de nossas casas terem uma porta muito espessa, reduzindo os espaços internos.

A cortiça foi substituída pelo poliuretano, plástico obtido pela junção de um isocianato com um poliol, e as portas dos refrigeradores ficaram fininhas como as conhecemos hoje. A cortiça continua sendo usada, mas não passa de rolha de algumas garrafas de vinho. O mesmo aconteceu com as cordas de sisal (agave) usadas na amarração do feno, alimento do gado. As cordas de fibra natural perderam posição no mercado mundial para as amarras do fio sintético.

São inúmeros os casos de superação tecnológica, mas ninguém poderia imaginar que a gigante Kodak, líder mundial de fotografia impressa em papel, viesse sucumbir rapidamente pela adoção da foto digital.

Aqui em Camaçari a Carbonor foi instalada com muito sucesso para fabricar bicarbonato de sódio. A tecnologia adquirida da belga Solvay consistia em borbulhar gás carbônico em solução de hidróxido de sódio. Esta era obtida a partir da soda em escamas fabricada pela Companhia Química do Recôncavo (CQR) e o gás carbônico era fornecido pela Nitrofértil, hoje Unigel Agro.

Entusiasmada com o sucesso da fabricação desse sal, a empresa chegou a montar uma unidade para manufaturar o ácido acetil salicílico (AAS), confiante na rota tecnológica que usava o transpasse de um gás num leito de um líquido.

Quando anunciava o início da operação a multinacional alemã Bayer anunciou que iria reativar a unidade de AAS que possuía em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, deixando de importar o princípio ativo da formulação da aspirina. O projeto deu para trás.

Quando a Polinor estava sendo instalada nas proximidades de João Pessoa, para fabricar o fio têxtil de poliéster, seus técnicos refizeram os cálculos e verificaram que adquirindo o ácido tereftálico (TPA) da Rhodia, não poderiam concorrer com ela na venda do fio têxtil colocado no mercado pela dona da matéria prima. A concorrente iria elevar o preço da resina e baixar o preço do fio têxtil, sufocando o que seria a primeira petroquímica do sonhado polo paraibano.

As máquinas já compradas nem chegaram a ser montadas e foram abandonadas na área onde a fábrica estava sendo construída.

Algo semelhante está acontecendo agora com a Acelen, subsidiária da gigante Mubadala, empresa dos Emirados Árabes com ativos em mais de 50 países. Ao adquirir da Petrobras a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), dentro de um contexto em que a petroleira estatal estava sendo obrigada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão responsável por garantir a livre concorrência e coibir práticas anticompetitivas, em função de Termo de Compromisso e Cessação (TCC) assinado e que impunha a venda de oito das suas 13 refinarias, não imaginava que o processo de alienação desses ativos fosse interrompido com a mudança de governo. A Acelen tem agora que vender os derivados de petróleo de sua produção concorrendo com a Petrobras, empresa que mantém o monopólio na venda do petróleo, já que opera mais de 88% dos campos produtores. A Acelen está solicitando ao CADE que a Petrobras revele o peço do petróleo que está sendo vendido às suas refinarias, para que possa comprá-lo pelo mesmo valor, estabelecendo a isonomia no mercado, já que o importado costuma ser muito mais caro.

A organização da Refina Brasil, entidade que congrega oito refinarias privadas e é responsável pelo refino de mais de 20% do petróleo processado, entrou em campo e espera obter sucesso. Afinal, a mudança das regras do jogo funciona como um desincentivo à atração de novos negócios, principalmente agora que a notícia já se espalhou pelo mundo. Caem, portanto, as chances de que novos investimentos no setor venham a ser realizados, quando o país precisa aumentar a produção, a riqueza, a criação de novos empregos, a arrecadação de tributos, adiando o prazo para deixar de ser considerado emergente e passe para o grupo dos desenvolvidos.

Por desagradar a algumas pessoas, concluo a escrita deste texto parafraseando o jornalista e político Carlos Lacerda, que se fosse vivo e usasse a linguagem atual diria: “se você não gostou dessa narrativa, faça a sua”.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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