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Artigo

Criar valores além do valor econômico

Elise Racicot

15/08/2021 06h00

Foto: Divulgação

Num mundo hoje marcado pelos desafios em escala global, se torna cada vez mais importante criar valores (respeito, sustentabilidade, inclusão, justiça etc.) além do valor estritamente econômico. Para que ao longo prazo a economia possa continuar a florescer, é necessário adotar novas práticas como a inclusão de elementos sociais, ambientais e de boa governança, conhecidas como ESG. A OCDE define fatores ESG como indicadores utilizados para analisar os prospectos de uma empresa, baseado na medida da sua performance relativa aos critérios ambientais, sociais, éticos e de governança.  Estas novas práticas também ajudarão a atingirmos os objetivos de desenvolvimento sustentável que temos como meta global. Num momento em que as questões de diversidade e inclusão estão reclamando atenção de todos, em preparação também para discutir as metas ambientais durante a COP26 do Acordo do Paris sobre o Clima e a COP15 sobre biodiversidade, a participação do setor privado nesses assuntos se torna primordial. Pois sem ela, essa tarefa gigantesca se torna praticamente impossível.

Quando se trata do papel que as corporações desempenham no desenvolvimento sustentável e inclusivo, as empresas buscam agir de forma responsável e desejam ser reconhecidas como líderes em práticas sustentáveis que respeitem a boa governança, o meio ambiente e as comunidades locais. De fato, é um papel que os Canadenses esperam das empresas do nosso país. Tais atitudes estão também sendo pedidas da parte do setor privado globalmente, seja no Canada, no Brasil ou em outros mercados, tanto pelos investidores, pelos clientes, pelas comunidades ou pela sociedade em geral.

O Governo do Canadá entende que o comportamento empresarial responsável das corporações canadenses ativas no exterior não apenas aumenta suas chances de sucesso comercial, mas também pode contribuir para benefícios econômicos de base ampla, tanto nos os países nos quais são ativos quanto ao Canadá.  Investimentos e operações comerciais responsáveis desempenham também uma função importante na promoção global dos valores canadenses.

Por isso, o Governo do Canadá espera das empresas canadenses que trabalham internacionalmente, de qualquer tamanho e setor, que respeitem os direitos humanos e todas as leis aplicáveis, cumpram ou excedam as diretrizes e normas internacionais de Conduta Empresarial Responsável (RBC), operem de forma transparente e em consulta com os governos anfitriões e as comunidades locais, e conduzam suas atividades de forma social e ambientalmente sustentável. Isto inclui operar no exterior de maneira consistente com os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Negócios e Direitos Humanos e as Diretrizes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico para Empresas Multinacionais, da qual o Canadá é signatário. Quando as empresas operam de forma econômica, social e ambientalmente responsável, e o fazem de forma transparente, isso pode criar valor compartilhado para as empresas de um lado, mas também para as sociedades impactadas pela atividade econômica delas.

Com isto em mente, o Canadá desenvolveu um guia para as empresas canadenses, sobretudo as pequenas e medias, destacando as principais políticas e legislação do Brasil sob a perspectiva dos ESG (Environment, Social, Governance), assim como as principais agências que monitoram e fazem cumprir a legislação. Isso equipa as empresas interessadas nesse mercado a entender melhor e considerar os aspectos sociais, ambientais e de boa governança, assim como a maneira que os associados e parceiros locais deles se comprometem com esses assuntos.

Neste contexto, o Canadá encoraja fortemente as empresas canadenses a apoiarem atividades comerciais que promovam o equilíbrio de gênero e raça, tanto no Canada quanto nos países onde atuam, inclusive aqui no Brasil. E estamos vendo a diferença importante que elas conseguem trazer.

Um exemplo interessante é fornecido pela empresa BRK Ambiental, a qual faz parte do grupo canadense Brookfield, que lidera hoje o maior projeto de águas e esgotos da América Latina na Grande Recife. Junto a esse projeto comercial de alto impacto social, promove o projeto Reinventar em Recife, inciativa que oferece formação para mulheres brasileiras em situação de vulnerabilidade e refugiadas venezuelanas para que as participantes possam atuar como encanadoras ou instaladoras hidráulicas (N.B. parceiros desse projeto incluem, entre outros, o próprio Senai).

Outro exemplo que vale ser destacado é a adaptação brasileira do plano de ação canadense para Mulheres na Mineração. Brasil e Canadá são líderes em mineração e ambos os países estão empenhados em promover a participação das mulheres no setor de mineração.  Com o apoio do Governo do Canadá, da nossa equipe comercial no Brasil, de nossas câmaras bilaterais de comércio e da Women in Mining Canada, junto com o IBRAM, foi lançado em 2020 o Plano de Ação para o Avanço das Mulheres na Indústria De Mineração Brasileira, desafiando os empregadores mineiros a tomar medidas significativas para incluir mais mulheres em todas as etapas do ciclo de mineração. Um ano após seu lançamento, 16 mineradoras no Brasil (incluindo 4 canadenses) já assinaram o Plano de Ação, tendo juntos um impacto positivo para integração de mais mulheres no setor.

Para resumir, acredito que só com a plena participação do setor privado poderemos conseguir atingir um desenvolvimento sustentável para todos e todas. Por isso, as empresas têm de enxergar o papel fundamental delas para que esses objetivos se tornem realidade. Os investidores hoje, assim como a sociedade em geral, peçam que sejam considerados os impactos ambientais, sociais e de governança das atividades econômicas do setor privado: peçam responsabilidade e compromisso com a sustentabilidade. Assim, considerar os elementos de ESG oferece uma bússola muito clara, prática e pragmática para guiar as atividades econômicas do setor privado de uma maneira responsável e sustentável, criando benefícios reais para todos envolvidos e impactados, sejam as empresas, os investidores, os funcionários, as comunidades ou, até, as gerações futuras.

Elise Racicot - já ocupou por 3 vezes cargos no Brasil. Primeiro como Cônsul e Gerente do Programa Comercial no Consulado Geral do Canadá em São Paulo; depois como Chefe de Missão e Diretora do Escritório de Quebec em São Paulo, com mandato para desenvolver relações comerciais, culturais, políticas e de migração para a província no Brasil; e finalmente, como Senior Trade Commissioner para o Brasil, liderando o Canadian Trade Program composto pelos 6 escritórios canadenses em todo o Brasil.

Publicado no portal Fiesp

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