20/07/2020 09h16
Foto: Enrico Marcovaldi - Projeto Baleia Jubarte
Entre os meses de julho e novembro, as águas calmas e quentes do litoral baiano são cenário das acrobacias e cantos das baleias jubartes. Todo ano, as ilustres visitantes viajam por cerca 2 meses, da Antártida até o Brasil, para acasalar, reproduzir, e dar um show para quem tem o privilégio de vê-las.
"São cantoras de ópera e dançarinas acrobáticas. Dentre as espécies, são as mais exibidas. Geralmente, os machos cantam para seduzir e copular, mas é também uma forma de comunicação", explica Enrico Marcovaldi, um dos coordenadores do Projeto Baleia Jubarte, que monitora a espécie há 32 anos.
A estimativa do Projeto Baleia Jubarte é que a população da espécie que vem para o Brasil, esse ano, passe dos 20 mil. Durante a temporada, elas podem ser vistas desde o norte de São Paulo até o sul do Rio Grande do Norte. A maior concentração está entre o Espírito Santo e a Bahia, e 70% delas escolhem o arquipélago de Abrolhos, no sul baiano, que é o principal berçário das jubartes no Atlântico Sul. O pico das jubartes no Brasil é agosto e setembro.
O veterinário Milton Marcondes, coordenador de Pesquisas do Projeto Baleia Jubarte, explica o motivo da espécie fazer uma viagem tão longa para se reproduzir, pura sabedoria da natureza.
"Em Abrolhos, há recifes de corais, elas procuram água mais abrigada, mais calma. Mesmo que o mar 'cresça', a água é mais calma, sem muitos predadores. Aqui elas encontram água mais quente. No útero da mãe, os filhotes estão a 37ºC, 38ºC, se fosse nascer na Antártida, nasceria na água 4ºC, 2ºC. Aqui nasce numa água a 25ºC, 26ºC, mesmo estando no inverno, e eles [filhotes] não precisam estar com uma capa de gordura tão grande.
"Elas nascem aqui [Brasil], a maioria é baiana e capixaba. Começam a nascer no final de julho e em agosto. O filhotinho nasce com 4 metros, 4,5 metros e pesando uma tonelada, precisa de tempo pra se desenvolver", completa Milton.
Esse ano, o registro da primeira jubarte da temporada foi em 30 de abril, em Ilhabela (SP) a primeira. Na Bahia, elas chegaram em junho, em Abrolhos, onde equipes do Projeto Baleia Jubarte já avistaram 120 baleias. O número aponta que vai ser uma boa temporada, com muitas visitantes. Entre Praia do Forte, litoral norte da Bahia, e Salvador, já foram vistas 30 baleias. Na capital, em um só dia, pesquisadores do projeto avistaram 8 delas, fora da Baía de Todos-os-Santos, trecho entre o Porto da Barra e Itapuã.
Enrico Marcovaldi explica que, na capital, elas podem ser vistas, muitas vezes, mais perto da costa. Elas costumam aparecer em locais com 100 e 120 metros de profundidade. "Aqui consegue ver as baleias mais perto porque a plataforma continental é mais estreita, disse Enrico Marcovaldi.
Com a pandemia do novo coronavírus, há menos gente e embarcações no mar, mas os pesquisadores ainda não sabem se isso pode trazer uma mudança no comportamento das jubartes na temporada.
As baleias jubartes surpreendem pelo tamanho e beleza. Elas podem chegar a até 16 metros de cumprimento e a pesar 35 toneladas. "Quem vê uma baleia nunca esquece", disse Enrico Marcolvadi, do Projeto Baleia Jubarte.
Milton Marcondes diz que em 2000, eram 3 mil jubartes no Brasil. Hoje, a estimativa é de mais 20 mil. Em 20 anos, elas cresceram muito. Ela era muito caçada e a população foi muito reduzida. Aqui no Brasil, a gente tem como base o número delas em 1800 eram 27 mil, mais ou menos. Elas foram caçadas, a caça foi interrompida na década de 60, e não sabemos o número exato que ficou, mas estima-se que sobraram 800. Foram tomadas várias ações para proteger as jubartes e deu certo", disse.
Estima-se que as jubartes vivam até os 60 anos. Monitoradas pelo projeto, algumas já são conhecidas dos pesquisadores. Todo ano voltam para acasalar ou reproduzir.
"Tem baleia que a gente conhece desde 1988, já adulta, que tem mais de 30 anos [hoje]", disse Milton Marcondes.
Fonte: G1