22/08/2025 06h06
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A terceirização é parte fundamental da operação no setor público e desempenha um papel estratégico para garantir a continuidade dos serviços e ampliar a capacidade operacional. No entanto, o modelo atual ainda carrega desafios relevantes, especialmente pela complexidade natural do ambiente regulatório, que exige controles rigorosos, processos formais e uma forte atuação dos órgãos de fiscalização.
Embora as Leis 8.666 e 14.133 tragam avanços importantes no controle e na transparência das contratações, também impõem uma estrutura de gestão que, muitas vezes, exige um maior esforço para conciliar agilidade, integração de processos e mitigação de riscos no dia a dia. É um cenário compreensível, considerando as responsabilidades adicionais do setor público, mas que, inevitavelmente, amplia a necessidade de uma gestão de terceiros mais robusta e preventiva.
O grande ponto de atenção está no risco de enxergar esse processo apenas como um protocolo burocrático. Na prática, uma gestão de terceiros eficiente vai além da conformidade documental. Ela se sustenta na construção de uma cultura de prevenção, integridade e gestão de riscos, um caminho que não é simples, mas absolutamente necessário.
Essa mudança começa pela adoção de uma matriz de riscos que permita avaliar, classificar e monitorar fornecedores de acordo com sua criticidade. E aqui existe uma diferença crucial em relação ao setor privado: no ambiente público, todos os contratos precisam ser acompanhados com o mesmo nível de rigor, o que exige processos muito bem desenhados, tecnologia e equipes capacitadas.
Ferramentas que cruzam dados em tempo real, automatizam etapas e geram alertas sobre possíveis não conformidades são fundamentais para tornar a gestão viável e eficiente. Mas, mais do que tecnologia, é a integração entre setores, Jurídico, Contratos, Auditoria, Compliance, Financeiro, TI e áreas operacionais, que faz a diferença na construção de um modelo de gestão que seja, de fato, preventivo e não apenas reativo.
Empresas públicas que transformaram a gestão de terceiros em um pilar estratégico já colhem resultados claros, como o aumento dos índices de conformidade, a redução de riscos trabalhistas e reputacionais e a consolidação de uma cultura interna baseada na responsabilidade e na integridade.
Superar os desafios do ambiente regulatório não significa burlar processos nem buscar atalhos. Pelo contrário: trata-se de fortalecer os próprios controles, redesenhar rotinas, qualificar fornecedores e incorporar a tecnologia como aliada. No fim, o que está em jogo não é apenas a execução de um contrato, mas a proteção da integridade institucional, dos recursos públicos e, principalmente, das pessoas que estão na ponta, prestando o serviço.
Bruno Santos – Administrador, Co-criador do primeiro curso de Gestão de Terceiros do Brasil e contribuinte para o desenvolvimento do conceito de Nível de Maturidade na Gestão de Terceiros. Sócio e CRO da área de Gestão de Terceiros da Bernhoeft.
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